Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
07/12/2013
UM PIB QUE PATINA
O anúncio de um recuo no PIB do terceiro trimestre de 2013 foi uma ducha
de água fria para o governo e para a economia brasileira. Com uma queda de 0,5%
em relação ao trimestre anterior, a tendência do PIB global para 2013 se
apresenta, agora, pior do que o esperado. Até então, se admitia um PIB entre
2,0% e 2,5%, com o mercado se fixando ao redor de 2,2% nestes últimos tempos.
Após 2,7% em 2011 e 1,0% (dado corrigido) em 2012, a expectativa era de
que a performance econômica do país em 2013, especialmente depois da excelente
safra de verão, pudesse surpreender. Diante dos resultados dos três primeiros
trimestres o quadro exige nova avaliação. Afinal, crescemos 0% no primeiro
trimestre, 1,8% (corrigido) no segundo trimestre, e agora menos 0,5%. Será
preciso um quarto trimestre muito bom para manter um PIB final acima de 2%,
mesmo que, no acumulado dos nove primeiros meses do ano, o PIB esteja em 2,4%
de crescimento (mas a base de comparação de 2012 é muito baixa). Além disso, a
queda de agora foi a primeira desde o primeiro trimestre de 2009, confirmando
os efeitos da relativa paralisia da economia brasileira nos últimos três anos. Dito isso, diversas lições podem ser tiradas
dos atuais resultados. Em primeiro lugar, em comparação a 2012, o crescimento
econômico brasileiro está melhor, porém, longe do projetado pelo governo no
início do ano (4% a 4,5%) e mais longe ainda do necessário (6% a 7%).
UM PIB QUE PATINA (II)
Em segundo lugar, o resultado do terceiro trimestre confirma a forte
paralisação da indústria e dos serviços, que já acumulam um longo período de
dificuldades, e a enorme dependência do setor agropecuário. Se o PIB do segundo
trimestre cresceu 1,8% graças a performance do setor primário, particularmente
puxado pela safra de verão e, nela, a safra de soja, agora o recuo se deve
exatamente porque o setor primário registrou baixa performance entre julho e
setembro, com o adicional de que os efeitos da safra de soja já se esgotaram
para este ano. Assim, a agropecuária, ao recuar 3,5% neste último trimestre, eliminou
o parco crescimento de 0,1% que a indústria e os serviços registraram no
período. Aliás, o crescimento de 2,4% no acumulado dos nove primeiros meses de
2013 está todo ele calcado na agropecuária, que registra um aumento de 8,1% no
período, contra apenas 1,2% na indústria e 2,1% nos serviços. Nesse contexto,
diante das dificuldades de retomada industrial no país, torna-se fundamental
que a próxima safra de verão não sofra percalços climáticos para que se
consiga, como espera o mercado, pelo menos 2,2% de PIB em 2014.
UM PIB QUE PATINA (III)
Em terceiro lugar, continuamos com baixo investimento. Neste terceiro
trimestre a Formação Bruta de Capital Fixo (que sinaliza os investimentos na
economia) recuou 2,2%. Aliás, nossa taxa de investimento em relação ao PIB tem
ficado ao redor de 18% nos últimos anos quando o necessário seria de 25%. A bem
da verdade o país nunca alcançou, em sua história, tamanha taxa de
investimentos. E isso porque nunca tivemos poupança suficiente para investir,
sempre dependendo muito dos recursos externos. Enfim, em quarto lugar, o que
ajudou o PIB do trimestre a não ser pior foi o consumo das famílias, que
registrou um avanço de 1%. Aliás, é este consumo que tem dado sustentação ao
PIB nacional nos últimos anos, fato que explica a insistência do governo, mesmo
com o risco de gerar bolhas de crescimento setoriais (caso dos automóveis, da
construção civil e outras), em continuar gerando medidas que estimulem tal
consumo. Por enquanto, graças a uma melhoria da massa salarial, a situação é
administrável, porém, o aumento do endividamento e da inadimplência, associado
a maiores dificuldades na geração de empregos, está colocando areia na
engrenagem, comprometendo o futuro. Assim, enquanto não consegue reformar a
casa, para manter um mínimo de crescimento o país necessita com urgência que a
economia mundial saia logo da crise e, com isso, volte a nos puxar já que o
modelo baseado no fôlego interno, por enquanto, demonstra claros sinais de
esgotamento.