Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
30/11/2013
A MAQUIAGEM OFICIAL
A partir de meados de 2012 notou-se um processo de maquiagem dos dados
econômicos brasileiros por parte do governo federal. Esse processo se
cristalizou aos olhos dos analistas internacionais no final daquele ano, quando
as principais revistas e jornais econômicos do mundo passaram a acusar a nova
realidade brasileira. O governo, não tendo como desmentir a realidade,
calou-se. Mas o mercado iniciou um processo de retirada de divisas do país,
além de uma redução de investimentos. Tal situação, somada a fatores externos,
levou a moeda brasileira, a partir de maio de 2013, a um forte movimento
de desvalorização. Tal movimento, contido parcialmente neste final de ano, se
mantém. Tanto é verdade que, entre os R$ 2,00 por dólar de meados de maio e os
atuais R$ 2,30 tem-se uma desvalorização de 15%. Na prática, não sendo
competente para estancar o déficit público e a corrupção desenfreada que grassa
no país, o governo tenta maquiar os dados tentando passar uma imagem irreal de
nossa economia. No caso do superávit primário, por exemplo, o país corre o
risco de nem mesmo atingir 1,8% do PIB quando a meta inicial pré-estabelecida é
de 3,2%. Essa fragilização da economia coloca o Brasil em outra dimensão aos
olhos do mundo desde o final de 2010. Hoje o país é visto com preocupações,
correndo o risco de assistir a um recuo em sua nota de avaliação junto às
chamadas “agências de risco”. E o quadro futuro não indica melhorias do
cenário!
A MAQUIAGEM OFICIAL (II)
Há muitas maneiras de se maquiar dados oficiais. Desde os índices de
inflação, caso muito corriqueiro na Venezuela e na Argentina nos últimos
tempos, até as contas públicas em geral. Dentre estas, um exemplo concreto
brasileiro assistimos junto à balança comercial do país. Assim, as plataformas
marítimas para exploração de petróleo em alto mar, que estão sendo produzidas em Rio Grande (RS), entram
na balança comercial como saldo de exportação, embora as mesmas fiquem em
território brasileiro. A P-63, por exemplo, alcançou um valor de exportação de
US$ 1,6 bilhão em julho passado. Assim, “apesar de fabricada no país e de ficar
em operação aqui, o processo é considerado exportação. Há apenas um registro
contábil da operação, para uma subsidiária da Petrobras fora do Brasil. Em
julho a operação foi fechada com o Panamá. Depois, as plataformas retornam ao
país como se estivessem sendo “alugadas” por uma empresa estatal localizada no
mercado nacional. O impacto aparece na balança comercial do país e do Rio
Grande do Sul porque a plataforma é registrada como exportação, mas retorna ao
país como “admissão temporária de bens”, não entrando nas estatísticas de
importação”. (cf. ZH 26/09/2013, p. 22)
A MAQUIAGEM OFICIAL (III)
Em outubro passado novamente o processo se fez presente. O Rio Grande do
Sul apareceu com o maior superávit comercial do país, atingindo a US$ 2,3
bilhões e o município de Rio Grande como o terceiro do país que mais exportou,
atingindo a US$ 5,9 bilhões. Tudo por conta deste jogo contábil com as
plataformas petrolíferas. Esta maquiagem oficial, que engana os menos
informados e acostumados com esse tipo de jogo, não passa despercebida pelo
mercado internacional. Somando-se a outros movimentos deste tipo, no conjunto
da economia, o resultado é o descrédito que o país vem tendo no cenário mundial
a cada ano que passa. Mas o pior é que, mesmo com toda essa maquiagem, o saldo
da balança comercial brasileira continua negativo em 2013. Entre janeiro e o
dia 24 de novembro o déficit atingiu a US$ 1,45 bilhão. E isso que a forte
desvalorização do Real, desde maio passado, é favorável ao exportador
nacional.