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terça-feira, 12 de novembro de 2013

A IDEOLOGIA DO FUTURO

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (CEEMA/DACEC/UNIJUI)
14/11/2013

Em um artigo recente, intitulado “A democracia liberal conseguirá sobreviver ao declínio da classe média?”, Francis Fukuyama destaca, dentre outros pontos interessantes, uma abordagem desafiadora. O autor, que há quase vinte anos ousou desenvolver a tese do “fim da história” (o capitalismo foi o grande vencedor ideológico sobre o socialismo e o comunismo), defende que existe uma correlação entre crescimento econômico, mudança social e ideologia liberal democrática. Ou seja, a ideologia liberal democrática permite o crescimento econômico que, por sua vez, leva a mudanças sociais. E, atualmente, não há ideologia diferente desta que se mostre plausível para substituí-la. Porém, tal hegemonia comporta riscos. O primeiro deles é que o esgotamento do modelo se dá pela impossibilidade de colocar todos os cidadãos em nível superior de crescimento e desenvolvimento econômico. Sem redistribuição da riqueza, isso levará à crises. A de 2007/08 é uma delas. A sociedade descobriu que melhorou seu acesso a bens materiais, porém, não houve grandes evoluções em qualidade de ensino, saúde, previdência, segurança, habitação... As manifestações de junho no Brasil e a Primavera Árabe e seus desdobramentos no Oriente Médio são um alerta nesse sentido. Em segundo lugar, um dos problemas está no uso da tecnologia. Ou seja, a mesma está concentrando ainda mais a renda porque os mais preparados a estão dominando e dela tirando proveito. A desigualdade sempre existiu, porém, o avanço tecnológico amplia estas diferenças se as nações não forem capazes, através de seus governos, a nele se inserirem. Em terceiro lugar, a renda da classe média junto aos países desenvolvidos está recuando devido à globalização, pois a mesma terceiriza o trabalho, os desempregando e/ou reduzindo seus salários. Quem está ganhando, portanto, com a nova ordem mundial é um número pequeno de pessoas nas finanças e alta tecnologia. Aliás, de onde se originou a atual crise econômico-financeira. Em quarto lugar, diante de tudo isso as chamadas esquerdas se fazem ausentes, deixando para a extrema direita a reação. O problema da esquerda é intelectual, pois não consegue analisar coerentemente a realidade e construir uma agenda realista que proteja as classes sociais. Com isso perdeu credibilidade enquanto o modelo paternalista estatal se esgota, assim como o estado do bem-estar social, caro aos europeus. O mundo está esperando por uma ideologia do futuro a qual, segundo Fukuyama, necessariamente terá que ter dois componentes: a) político, que mantenha a democracia sem apostar no Estado-providência e sim redesenhando o setor público; b) econômico, encontrar no contexto do capitalismo o grau em que os governos devem auxiliar as sociedades a realizarem as mudanças. O caminho seria a valorização social e não a valorização das elites e da política do lucro a qualquer preço. Um debate e tanto, sem dúvida! O problema é que o mundo não se mostra preparado para o mesmo, fato que autoriza a pensar que a desigualdade vai continuar a agravar-se.  

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