Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (CEEMA/DACEC/UNIJUI)
14/11/2013
Em um artigo
recente, intitulado “A democracia liberal conseguirá sobreviver ao declínio da
classe média?”, Francis Fukuyama destaca, dentre outros pontos interessantes,
uma abordagem desafiadora. O autor, que há quase vinte anos ousou desenvolver a
tese do “fim da história” (o capitalismo foi o grande vencedor ideológico sobre
o socialismo e o comunismo), defende que existe uma correlação entre
crescimento econômico, mudança social e ideologia liberal democrática. Ou seja,
a ideologia liberal democrática permite o crescimento econômico que, por sua
vez, leva a mudanças sociais. E, atualmente, não há ideologia diferente desta
que se mostre plausível para substituí-la. Porém, tal hegemonia comporta
riscos. O primeiro deles é que o esgotamento do modelo se dá pela
impossibilidade de colocar todos os cidadãos em nível superior de crescimento e
desenvolvimento econômico. Sem redistribuição da riqueza, isso levará à crises.
A de 2007/08 é uma delas. A sociedade descobriu que melhorou seu acesso a bens
materiais, porém, não houve grandes evoluções em qualidade de ensino, saúde,
previdência, segurança, habitação... As manifestações de junho no Brasil e a
Primavera Árabe e seus desdobramentos no Oriente Médio são um alerta nesse
sentido. Em segundo lugar, um dos problemas está no uso da tecnologia. Ou seja,
a mesma está concentrando ainda mais a renda porque os mais preparados a estão
dominando e dela tirando proveito. A desigualdade sempre existiu, porém, o
avanço tecnológico amplia estas diferenças se as nações não forem capazes,
através de seus governos, a nele se inserirem. Em terceiro lugar, a renda da
classe média junto aos países desenvolvidos está recuando devido à
globalização, pois a mesma terceiriza o trabalho, os desempregando e/ou
reduzindo seus salários. Quem está ganhando, portanto, com a nova ordem mundial
é um número pequeno de pessoas nas finanças e alta tecnologia. Aliás, de onde
se originou a atual crise econômico-financeira. Em quarto lugar, diante de tudo
isso as chamadas esquerdas se fazem ausentes, deixando para a extrema direita a
reação. O problema da esquerda é intelectual, pois não consegue analisar
coerentemente a realidade e construir uma agenda realista que proteja as
classes sociais. Com isso perdeu credibilidade enquanto o modelo paternalista
estatal se esgota, assim como o estado do bem-estar social, caro aos europeus.
O mundo está esperando por uma ideologia do futuro a qual, segundo Fukuyama,
necessariamente terá que ter dois componentes: a) político, que mantenha a
democracia sem apostar no Estado-providência e sim redesenhando o setor
público; b) econômico, encontrar no contexto do capitalismo o grau em que os
governos devem auxiliar as sociedades a realizarem as mudanças. O caminho seria
a valorização social e não a valorização das elites e da política do lucro a
qualquer preço. Um debate e tanto, sem dúvida! O problema é que o mundo não se
mostra preparado para o mesmo, fato que autoriza a pensar que a desigualdade
vai continuar a agravar-se.