:)

Pesquisar

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
29/09/2013

 A EDUCAÇÃO E O DESCASO
Qualquer país que se preza, para avançar, investe na educação, particularmente na educação de base (aqui no Brasil os ensinos fundamental e médio). A formação das pessoas, a partir de uma educação de qualidade, é fundamental para se galgar etapas importantes rumo ao desenvolvimento. Exemplos vizinhos nos chamam a atenção, casos do Uruguai e do Chile. A Argentina igualmente, por muito tempo, avançou nesta linha. Infelizmente, nas últimas décadas, perdeu o rumo e iniciou um processo de recuo importante nesta área. E o Brasil? Pois nosso país tem deixado a desejar historicamente neste quesito primordial, com piora considerável na atualidade. Hoje a educação pública se tornou um fracasso rotundo. A ponto das manifestações populares de junho/13 centrarem suas reivindicações em torno deste tema, relacionando a péssima qualidade de ensino nacional com o aumento considerável da corrupção nas diferentes áreas públicas. Nesse momento, em muitos locais do país os professores manifestam, cada uma a sua maneira, em busca de melhorias salariais, já que nem mesmo o piso salarial nacional do magistério muitos Estados da Federação estão pagando. Para muitos professores se torna proibitivo até mesmo realizar uma assinatura de jornal cotidiano de influência estadual ou nacional, que dirá investir na compra de livros e na internet. Paralelamente, nossos alunos, que serão os gestores futuros deste país, em sua grande maioria, não conseguem assimilar um mínimo de conteúdo da língua portuguesa, de matemática, de idiomas estrangeiros ou de qualquer outra área do conhecimento. Ao mesmo tempo a infraestrutura de nossas escolas, com raras exceções, é precária e recebe poucos investimentos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o atual governador não cumpre a lei que ele próprio assinou quando ministro da República (Tarso Genro, quando ministro, assinou a lei que reza que nenhum professor estadual deve ficar sem receber o piso salarial da categoria). A alegação, assim como o discurso existente inclusive nos órgãos federais, é que não há recursos suficientes para a educação no país. Na verdade recursos existem! O que não existe é interesse político em investir na educação nacional.

A EDUCAÇÃO E O DESCASO (II)
O total descaso para com esse aspecto da vida brasileira é monstruoso, pois continuamos a comprometer o futuro deste país. Enquanto os diferentes governos, estadual e federal, indicam falta de recursos para a educação, a corrupção, o mau gerenciamento e o desperdício de dinheiro público aumentam diariamente no Brasil. Somente na última semana três notícias exemplificam nossa indignação a respeito. Não há dinheiro para a educação no Brasil, porém, somente no Rio Grande do Sul, onde não se paga o piso ao magistério público, os três poderes gaúchos (Governo do Estado, Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa, Ministério Público do Estado e Tribunal de Contas do Estado) gastam com funcionários contratados sem concurso (geralmente para acomodar promessas de campanha) ao redor de R$ 33,4 milhões todos os meses. São 5.715 cargos de confiança, muitos sem nenhuma qualificação para ocuparem os cargos em que estão, cada um ganhando em média R$ 5.844,27 mensalmente. Enquanto isso o piso salarial nacional para o magistério é de R$ 1.567,00 e o Estado gaúcho paga apenas R$ 977,00 mensais como remuneração básica a seus professores (cf. Valor Econômico, 23/08/13). O que os três poderes gaúchos gastam mensalmente com CCs daria para remunerar 21.316 professores estaduais pelo piso nacional.

A EDUCAÇÃO E O DESCASO (III)

Por outro lado, enquanto não há recursos para pagar decentemente os professores públicos dos ensinos fundamental e médio no Brasil, a Câmara Federal, com 513 deputados, gastou R$ 58,1 milhões, desde o início da atual legislatura (janeiro de 2011), apenas com aluguel de automóveis, sendo que parte do tempo dos mesmos é usada para fins particulares. Esse volume de dinheiro equivale a R$ 113.255,36 por deputado federal ou ainda R$ 3.775,18 por mês e por deputado, considerando que o cálculo leva em conta 30 meses passados da atual legislatura. E quando o Brasil analisa o trabalho realizado pelos deputados federais em prol da sociedade nacional, com honrosas exceções, tais valores se tornam uma aberração. A ponto de que seria R$ 11 milhões mais barato se a Câmara comprasse um carro popular para cada parlamentar usar (cf. ZH, 16/09/13). Enfim, não há dinheiro para a educação nacional, porém, os 513 deputados federais gastaram R$ 13,2 milhões com selos para correspondências desde janeiro de 2011. Isso em plena era da internet e correio eletrônico. Sem falar que a grande maioria de tais correspondências nada mais é do que propaganda pessoal do próprio deputado. Não há como o Brasil aguentar tal desatino gerencial. E tem gente que ainda acha que nosso subdesenvolvimento permanente se deve basicamente ao imperialismo internacional.

Postagens Anteriores