O DEVER DE CASA
Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (CEEMA/DACEC/UNIJUI)
26/09/2013
O Brasil acaba de consolidar dois recordes negativos e perigosos para o
futuro de nossa economia. O primeiro quanto a balança comercial. O segundo,
alimentado também pelo primeiro, quanto às transações correntes. O balanço de
pagamentos do país é formado particularmente pela balança de transações
correntes (esta é formada pela balança comercial; balança de serviços e balança
de transferências unilaterais) e pela balança movimento de capitais. A soma das
transações correntes e do movimento de capitais proporciona, grosso modo, o
resultado final do balanço de pagamentos. Se a conta de transações correntes
acusar um déficit, necessariamente a conta de capital terá que registrar um
superávit importante para que não ocorra um déficit no balanço de pagamentos. Caso
este déficit ocorra o país terá que se endividar, se não possuir reservas
suficientes, e/ou cortar fundo em suas despesas. Pois bem, em 2013, além do
tradicional déficit da balança de serviços, oriundo principalmente dos juros da
dívida externa e dos lucros e dividendos enviados ao exterior pelas
multinacionais aqui instaladas, e pelo fato das transferências unilaterais
representarem pouco movimento de recursos, temos o agravante de que a balança
comercial também registra um déficit até o momento. O mesmo era de US$ 2,26
bilhões até a terceira semana de setembro, contra um superávit de US$ 15,3
bilhões em igual período do ano passado (nos primeiros oito meses do ano nossa
balança comercial já havia registrado o seu pior resultado dos últimos 18
anos). Ou seja, o resultado da balança de transações correntes será ainda mais
negativo do que o normal, devendo bater um recorde histórico ao chegar ao final
do ano em torno de US$ 70 bilhões, contra US$ 54,2 bilhões negativos em 2012.
Nesse contexto, será muito difícil evitar fecharmos o ano com um déficit na
balança de pagamentos, e todas as suas conseqüências negativas, na medida em
que a conta capital tende a não alcançar um resultado positivo de tal
envergadura. Particularmente porque a entrada de investimentos externos diretos
diminui, assim como assistimos a uma fuga de capital de curto prazo nos últimos
meses. Dito de outra forma, o resultado comercial, que mantinha a conta de
transações correntes no azul seguidamente, ajudando a financiar déficits
estruturais, ao ficar negativo ou em torno de zero, aumenta sobremaneira a
nossa vulnerabilidade externa, exigindo urgentemente importantes ajustes em
nosso atual modelo de crescimento. E se isso ficar para 2015, após as eleições
presidenciais, o remédio será ainda mais amargo, dolorido e com maior potencial
de marginalização e empobrecimento de boa parte da sociedade, a começar por
esta que, bem ou mal, hoje teria chegado ao estágio de “classe média”. Esse é
um dos custos que nos espera por não termos feito o “dever de casa” nesta
última década.