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terça-feira, 24 de setembro de 2013

O DEVER DE CASA


O DEVER DE CASA

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (CEEMA/DACEC/UNIJUI)
26/09/2013


O Brasil acaba de consolidar dois recordes negativos e perigosos para o futuro de nossa economia. O primeiro quanto a balança comercial. O segundo, alimentado também pelo primeiro, quanto às transações correntes. O balanço de pagamentos do país é formado particularmente pela balança de transações correntes (esta é formada pela balança comercial; balança de serviços e balança de transferências unilaterais) e pela balança movimento de capitais. A soma das transações correntes e do movimento de capitais proporciona, grosso modo, o resultado final do balanço de pagamentos. Se a conta de transações correntes acusar um déficit, necessariamente a conta de capital terá que registrar um superávit importante para que não ocorra um déficit no balanço de pagamentos. Caso este déficit ocorra o país terá que se endividar, se não possuir reservas suficientes, e/ou cortar fundo em suas despesas. Pois bem, em 2013, além do tradicional déficit da balança de serviços, oriundo principalmente dos juros da dívida externa e dos lucros e dividendos enviados ao exterior pelas multinacionais aqui instaladas, e pelo fato das transferências unilaterais representarem pouco movimento de recursos, temos o agravante de que a balança comercial também registra um déficit até o momento. O mesmo era de US$ 2,26 bilhões até a terceira semana de setembro, contra um superávit de US$ 15,3 bilhões em igual período do ano passado (nos primeiros oito meses do ano nossa balança comercial já havia registrado o seu pior resultado dos últimos 18 anos). Ou seja, o resultado da balança de transações correntes será ainda mais negativo do que o normal, devendo bater um recorde histórico ao chegar ao final do ano em torno de US$ 70 bilhões, contra US$ 54,2 bilhões negativos em 2012. Nesse contexto, será muito difícil evitar fecharmos o ano com um déficit na balança de pagamentos, e todas as suas conseqüências negativas, na medida em que a conta capital tende a não alcançar um resultado positivo de tal envergadura. Particularmente porque a entrada de investimentos externos diretos diminui, assim como assistimos a uma fuga de capital de curto prazo nos últimos meses. Dito de outra forma, o resultado comercial, que mantinha a conta de transações correntes no azul seguidamente, ajudando a financiar déficits estruturais, ao ficar negativo ou em torno de zero, aumenta sobremaneira a nossa vulnerabilidade externa, exigindo urgentemente importantes ajustes em nosso atual modelo de crescimento. E se isso ficar para 2015, após as eleições presidenciais, o remédio será ainda mais amargo, dolorido e com maior potencial de marginalização e empobrecimento de boa parte da sociedade, a começar por esta que, bem ou mal, hoje teria chegado ao estágio de “classe média”. Esse é um dos custos que nos espera por não termos feito o “dever de casa” nesta última década.

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