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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
22/09/2013

A GUERRA COMERCIAL E OS EUA
Durante a chamada “guerra fria” (1946-1991), quando EUA e União Soviética disputavam a hegemonia política e econômica, o mundo viveu grande parte do período sob regime comercial protecionista. Ou seja, apesar dos esforços do então Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT) em abrir o comércio via rodadas de negociações multilaterais (envolvendo todos os seus países membros) o mundo encontrava dificuldades para liberar o comércio. Aliás, tem sido assim historicamente: em épocas de conflitos e crises globais a tendência sempre foi o comércio mundial diminuir, pois os países partem para ações protecionistas em favor de seus mercados internos. Com a implosão do império soviético em 1991 os EUA ficaram praticamente sós no mundo para exercer sua hegemonia. Foi o momento em que, iniciada em 1986, a lógica do livre-comércio, com base nas teorias neoliberais, avançou significativamente. Diferentes blocos econômicos surgiram, dentre eles o Mercosul, e as ações multilaterais em favor de um comércio sem protecionismos se multiplicaram. Neste cenário nasceu a proposta da Área de Livre-Comércio das Américas (ALCA), que foi erroneamente bombardeada no Brasil antes mesmo que se pudesse discuti-la com propriedade. A atual linha política brasileira terminou por enterrá-la, sustentada igualmente pela perda de interesse dos EUA na mesma após o fracasso do acordo entre União Europeia e Mercosul, em 2004. Pois bem, passados quase 10 anos destes últimos eventos assistimos a uma retomada mundial em busca de acordos de livre-comércio regionais. O Mercosul e a União Europeia falam em retomar as negociações para se criar uma zona de livre-comércio inter-blocos, mesmo que em nosso caso mal tenhamos uma integração econômica. Por sua vez, os EUA avançam em duas frentes: com a Europa e com a Ásia. Que estratégia o move nesta direção, dentro do contexto atual de guerra comercial que vivemos, especialmente depois de 1991?

A GUERRA COMERCIAL E OS EUA (II)
Tanto o Acordo de Livre-Comércio com a Europa (Transatlantic Trade and Investment Partnership – TTIP) quanto o Acordo de Livre-Comércio com a Ásia (Trans Pacific Partnership – TPP) tem como lógica o óbvio: um país cresce bem mais quando aumenta suas exportações, ampliando seus mercados. No caso dos EUA, diante do marasmo provocado pela crise mundial, se busca ampliar o comércio internacional para dinamizar um crescimento econômico anêmico. Mas há outro grande motivo para tais iniciativas: conter a retomada futura da potência econômica que é a China. Provavelmente esse seja o motivo principal! Ocorre que hoje não se pode mais utilizar as armas comerciais de um passado não tão distante, tipo a manipulação das tarifas aduaneiras, para bloquear as importações competitivas procedentes de outros países ou para favorecer produtos de países amigos. Agora, será preciso harmonizar as normas comerciais dos dois lados do mundo. Normas estas que têm servido para justamente bloquear o comércio entre países.
A GUERRA COMERCIAL E OS EUA (III)

Assim, facilitar o comércio entre duas potências significa aplicar as mesmas regras para brinquedos, pescado ou produtos financeiros. Hoje, a principal arma na guerra comercial mundial é dominar e ditar tais normas, pois isso permite controlar a circulação de riquezas. É por isso que se torna tão estratégico para os EUA compor um grupo de países, em torno de acordos comerciais de livre-comércio, com regras comuns, que inclua o máximo de Estados, para poder se opor à China. A complexidade do processo não deve permitir que os resultados sejam rápidos (cf. Le Monde, 17/06/13). Mas o jogo começou a ser jogado! E o Brasil nisso tudo? Talvez espere que, por ter sido um brasileiro escolhido para Secretário Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), a partir deste mês de setembro, possa assumir alguma relevância neste debate internacional. Todavia, nada indica que estamos realmente preparados, hoje, para jogar tal jogo. Afinal, nem mesmo a Argentina conseguimos enfrentar quando a mesma burla o mais simples dos acordos do Mercosul. Além disso, a própria OMC perde espaço, pois tais negociações estão passando por cima de sua estrutura. Aliás, é por isso que não teria havido interesse do chamado “mundo desenvolvido” em disputar a Secretaria Geral da Organização. O multilateralismo estaria claramente perdendo espaço em favor de um ou dois países hegemônicos, repetindo a história.  

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