Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
08/09/2013
O CÍRCULO VICIOSO
A
presidente Dilma, em mais um discurso visando tranquilizar os brasileiros,
voltou a dizer que “o Brasil tem bala na agulha” para enfrentar a crise cambial
que se abate sobre o país. A verdade é relativa a respeito de tal afirmação.
Efetivamente temos hoje mais dos mesmos instrumentos do passado para tal ação.
A começar pelas reservas cambiais que ultrapassavam os US$ 370 bilhões em maio,
quando do início da desvalorização intempestiva do Real. Todavia, o mercado já
nos mostrou, em outras oportunidades, que se os fundamentos estruturais da
economia não estiverem organizados, as reservas se esgotam com o tempo enquanto
a pressão cambial se mantém. A nossa entrada no chamado “câmbio flexível”, a
partir de janeiro de 1999, é fruto desta situação. Também se pode igualmente
elevar ainda mais e por mais tempo o juro básico (Selic), tornando o país mais
atrativo ao capital especulativo e, com isso, provocando uma entrada de dólares
que revalorize em parte o Real. E assim existem outros instrumentos monetários
de curto prazo que podem resolver parcialmente a situação. O problema, em todos
eles, é que nenhum resolve a atual fragilidade estrutural da economia
brasileira. E todos levam, mais dia ou menos dia, a gerar um círculo vicioso
nefasto ao crescimento econômico. A solução passa, antes de tudo, pela
reestruturação do Estado e da economia nacional, dentro de um contexto em que
se elimine a ineficiência geral e se aumente a competitividade (aliás, o Brasil
acaba de perder posições no ranking mundial de competitividade), tornando a
economia mais ágil, menos burocrática e corrupta.
O CÍRCULO VICIOSO (II)
Enquanto
isso não ocorre, nosso país perdeu espaço no cenário mundial, se viu atacado
pelo mercado a ponto de o Real perder muito mais valor do que a paridade de
poder de compra estaria indicando para o momento atual (o câmbio razoável seria
ao redor de R$ 2,25 por dólar), e as ações oficiais em busca da estabilização
cambial não surtem efeitos. E, para piorar, o cenário mundial continua difícil,
agora se adicionando o possível ataque dos EUA à Síria. Num cenário de
fragilidade econômica interna, após o governo estimular um consumo nacional muito
além da infraestrutura existente para absorvê-lo, a desvalorização do Real nos
atinge no exato momento em que o endividamento familiar aumenta, a
inadimplência é uma realidade para muitos, o modelo de nos apoiarmos no consumo
interno para sair da crise se esgota e os preços sobem, gerando forte
preocupação quanto ao futuro da inflação e a própria continuidade da
estabilização econômica. Para conter o ímpeto altista dos preços, o governo,
desde abril passado, inverteu a sua lógica ingênua de tentar baixar juro “no
grito” e passou a elevar a Selic. Hoje a mesma chega a 9% ao ano, com fortes
possibilidades de atingir a 10% no final de 2013. Afinal, a desvalorização do
Real veio adicionar mais combustível à inflação na medida em que importamos de
tudo, a começar pelos combustíveis. Todavia, ao aumentar os juros colocamos um
freio a uma economia que já vem crescendo muito pouco. Os 2% previstos para o
PIB deste ano não é nada se considerarmos que no ano passado tivemos 0,9%
apenas de crescimento (a base de comparação é muito baixa) e, sobretudo, diante
das necessidades reais do país.
O CÍRCULO VICIOSO (III)
Paralelamente,
o freio da economia, que representa a paralisação parcial do setor produtivo,
eleva o desemprego, o qual atinge a 10,9% da população (dados de julho), após
10,7% um ano antes. Algumas capitais do país, como Recife e Salvador já estão
com uma taxa de desemprego de 13,4% e 18,7% respectivamente, segundo a Pesquisa
de Emprego e Desemprego (PED). Ao mesmo tempo, nossas exportações não decolam,
especialmente junto ao setor industrial e de serviços, mesmo com um Real bem
desvalorizado neste ano. Assim, o empuxe que se esperaria do mercado externo
não chega por absoluta falta de competitividade de nosso sistema produtivo. E,
para completar o quadro, no próximo ano temos eleições presidenciais no Brasil,
fato que tende a paralisar ainda mais qualquer ação consistente por parte do
governo que, apesar de sua fraqueza, busca a reeleição. E quanto mais
demorarmos em efetivamente enfrentar os problemas estruturais que temos em
nossa economia, pior ficará a situação. Nessa lógica, dá para imaginar o que
nos espera em 2015, primeiro ano pós-eleições! Não admira que o povo tenha,
finalmente, começado a manifestar desde junho passado.