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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
08/09/2013

O CÍRCULO VICIOSO
A presidente Dilma, em mais um discurso visando tranquilizar os brasileiros, voltou a dizer que “o Brasil tem bala na agulha” para enfrentar a crise cambial que se abate sobre o país. A verdade é relativa a respeito de tal afirmação. Efetivamente temos hoje mais dos mesmos instrumentos do passado para tal ação. A começar pelas reservas cambiais que ultrapassavam os US$ 370 bilhões em maio, quando do início da desvalorização intempestiva do Real. Todavia, o mercado já nos mostrou, em outras oportunidades, que se os fundamentos estruturais da economia não estiverem organizados, as reservas se esgotam com o tempo enquanto a pressão cambial se mantém. A nossa entrada no chamado “câmbio flexível”, a partir de janeiro de 1999, é fruto desta situação. Também se pode igualmente elevar ainda mais e por mais tempo o juro básico (Selic), tornando o país mais atrativo ao capital especulativo e, com isso, provocando uma entrada de dólares que revalorize em parte o Real. E assim existem outros instrumentos monetários de curto prazo que podem resolver parcialmente a situação. O problema, em todos eles, é que nenhum resolve a atual fragilidade estrutural da economia brasileira. E todos levam, mais dia ou menos dia, a gerar um círculo vicioso nefasto ao crescimento econômico. A solução passa, antes de tudo, pela reestruturação do Estado e da economia nacional, dentro de um contexto em que se elimine a ineficiência geral e se aumente a competitividade (aliás, o Brasil acaba de perder posições no ranking mundial de competitividade), tornando a economia mais ágil, menos burocrática e corrupta.

O CÍRCULO VICIOSO (II)
Enquanto isso não ocorre, nosso país perdeu espaço no cenário mundial, se viu atacado pelo mercado a ponto de o Real perder muito mais valor do que a paridade de poder de compra estaria indicando para o momento atual (o câmbio razoável seria ao redor de R$ 2,25 por dólar), e as ações oficiais em busca da estabilização cambial não surtem efeitos. E, para piorar, o cenário mundial continua difícil, agora se adicionando o possível ataque dos EUA à Síria. Num cenário de fragilidade econômica interna, após o governo estimular um consumo nacional muito além da infraestrutura existente para absorvê-lo, a desvalorização do Real nos atinge no exato momento em que o endividamento familiar aumenta, a inadimplência é uma realidade para muitos, o modelo de nos apoiarmos no consumo interno para sair da crise se esgota e os preços sobem, gerando forte preocupação quanto ao futuro da inflação e a própria continuidade da estabilização econômica. Para conter o ímpeto altista dos preços, o governo, desde abril passado, inverteu a sua lógica ingênua de tentar baixar juro “no grito” e passou a elevar a Selic. Hoje a mesma chega a 9% ao ano, com fortes possibilidades de atingir a 10% no final de 2013. Afinal, a desvalorização do Real veio adicionar mais combustível à inflação na medida em que importamos de tudo, a começar pelos combustíveis. Todavia, ao aumentar os juros colocamos um freio a uma economia que já vem crescendo muito pouco. Os 2% previstos para o PIB deste ano não é nada se considerarmos que no ano passado tivemos 0,9% apenas de crescimento (a base de comparação é muito baixa) e, sobretudo, diante das necessidades reais do país.

O CÍRCULO VICIOSO (III)
Paralelamente, o freio da economia, que representa a paralisação parcial do setor produtivo, eleva o desemprego, o qual atinge a 10,9% da população (dados de julho), após 10,7% um ano antes. Algumas capitais do país, como Recife e Salvador já estão com uma taxa de desemprego de 13,4% e 18,7% respectivamente, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Ao mesmo tempo, nossas exportações não decolam, especialmente junto ao setor industrial e de serviços, mesmo com um Real bem desvalorizado neste ano. Assim, o empuxe que se esperaria do mercado externo não chega por absoluta falta de competitividade de nosso sistema produtivo. E, para completar o quadro, no próximo ano temos eleições presidenciais no Brasil, fato que tende a paralisar ainda mais qualquer ação consistente por parte do governo que, apesar de sua fraqueza, busca a reeleição. E quanto mais demorarmos em efetivamente enfrentar os problemas estruturais que temos em nossa economia, pior ficará a situação. Nessa lógica, dá para imaginar o que nos espera em 2015, primeiro ano pós-eleições! Não admira que o povo tenha, finalmente, começado a manifestar desde junho passado.


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