Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (CEEMA/DACEC/UNIJUI)
05/09/2013
Há uma expectativa demasiadamente
positiva, por parte do governo e mesmo de alguns segmentos do mercado, em
relação ao PIB deste ano de 2013. Apesar da recuperação no segundo trimestre,
quando o mesmo subiu 1,5% sobre o trimestre anterior, elevando para 3,3% a
recuperação econômica em relação ao mesmo período do ano anterior, os dados
precisam ser vistos com realismo. O que puxou o PIB do segundo semestre foi
especialmente o setor primário, com um crescimento de 3,9%, enquanto a
indústria ficou em 2% e os serviços em apenas 0,8%. E esta situação do setor
primário se deve particularmente ao fato de que no segundo semestre ocorre a
comercialização da safra de verão, particularmente a soja, que neste ano foi
cheia e de preços ainda muito bons. Ora, isso não deve se repetir no terceiro
trimestre do ano. Além disso, a indústria brasileira, que havia crescido 2,7%
em junho, em relação a maio, teve um recuo de 2% em julho em relação a junho,
confirmando os altos e baixos deste setor durante o ano. Assim, o mercado já
adianta que há fortes possibilidades de o PIB no terceiro trimestre ficar
próximo a zero. Nestas condições, a tendência para o ano se confirma para um
resultado ao redor de 2% e, talvez, um pouco mais baixo, apesar de o mercado
adiantar uma última estimativa de 2,2%. Vale destacar ainda que o consumo das
famílias, que vinha puxando o pouco de PIB que tínhamos, ter ficado em apenas
0,3% de crescimento no segundo trimestre, confirmando o desaquecimento do
consumo interno brasileiro a partir do aumento do endividamento e da
inadimplência geral. Além disso, para o último trimestre do ano começará a
pesar o aumento do juro (Selic) iniciado em abril passado. Aliás, o novo
aumento da Selic, com a mesma passando a 9% ao ano no final de agosto, e com a
probabilidade de chegar a 10% no final do ano, tende a travar o PIB brasileiro
ainda para 2014. O mercado já estima algo em torno de 2% a 2,5% embora o
ministro Mantega, mais uma vez, anuncia 4% para o próximo ano (não se pode
esquecer que para 2013 o ministro anunciou um PIB de 4,5%). E não há muito a
fazer no curto prazo, já que o aumento dos juros se faz necessário diante da
pressão inflacionária que começa a aumentar por conta da forte desvalorização
do Real, que voltou a bater em R$ 2,40 neste início de setembro. A mesma
estaciona em 22% aproximadamente desde meados de maio passado. Ou seja, apesar
do desejo governamental em ver um PIB que possa ter superado o chamado “fundo
do poço”, a realidade mostra que poderemos nos arrastar por mais tempo do que o
esperado antes de o país conseguir alcançar um crescimento econômico mais
significativo. Dito de outra maneira, sem reformas estruturais na economia e no
papel do Estado junto à mesma, o PIB até pode se recuperar parcialmente, porém,
continuará longe das necessidades brasileiras que, pelo tamanho de sua
população e suas demandas, seria de algo entre 6% a 7% anuais.