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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
01/09/2013

ERROS DE AVALIAÇÃO
Ou o governo, personificado no ministro Mantega, não está enxergando o que acontece na área cambial ou, como deve ser o caso, não quer dizer, por razões políticas, o que realmente está percebendo. Mas uma coisa é certa: a desvalorização cambial está longe de ser apenas um processo causado pela possibilidade de os EUA reduzirem os estímulos à sua economia. Dito de outra maneira, é possível creditar 30% do que ocorre com o nosso câmbio a este fato externo, que ainda não se concretizou, pois o governo estadunidense não sabe exatamente se a sua economia está efetivamente iniciando um processo de recuperação, mesmo que tímido, a ponto de não necessitar mais dos US$ 85 bilhões mensais que está injetando ao consumo. Isso explica porque as demais moedas do mundo emergente igualmente se desvalorizam. Todavia, a intensidade maior da desvalorização do Real se deve ao descontrole interno de nossa economia, para o qual podemos creditar os outros 70% do movimento de enfraquecimento de nossa moeda. O descrédito para com a nossa economia, que vem desde o final do ano passado, por parte do resto mundo e, particularmente, por parte do capital internacional, a partir do momento em que se confirmou que o governo brasileiro estava maquiando dados econômicos para esconder a realidade, está por trás desta situação mais aguda. Na prática, está saindo mais dólares do que entra no país, além de muitos investidores e especuladores estarem mais receosos de colocarem seus recursos no Brasil. Faz tempo que deixamos de ser a “menina dos olhos” do mundo emergente, para tais capitais. Para piorar o quadro, nossa balança comercial, mesmo com o atual câmbio, até meados de agosto registra um déficit superior a US$ 4 bilhões contra um superávit acima de US$ 11 bilhões em igual período do ano passado. Isso significa menos entrada de dólares também pelo lado comercial, junto ao setor produtivo nacional. Resultado: nossa balança de transações correntes deverá fechar o ano com um déficit recorde ao redor de US$ 70 bilhões. Portanto, publicamente o governo erra na avaliação das causas da atual crise cambial que, por sinal, a classifica de minicrise, na linha da “marolinha” usada pelo ex-presidente Lula quando se referiu ao impacto da crise mundial de 2007/08 sobre o Brasil.

ERROS DE AVALIAÇÃO (II)
Mas o erro de avaliação não pára aí. O governo considera que a atual crise cambial terá impacto menor sobre o Brasil do que a provocada pelo estouro econômico ocorrido na Europa entre 2010 e 2012. Ora, naquela oportunidade a economia brasileira ainda estava em alta, mesmo que de forma insustentável, a inflação nacional tinha melhor controle, e a confiança dos investidores internacionais para com o Brasil chegava ao seu ápice. Hoje vivemos uma situação totalmente contrária. Portanto, somente na inflação nacional, que já está assustando há meses, o impacto já será maior para o brasileiro, pois nossas importações ficaram, em menos de quatro meses, 22,5% mais caras quando o câmbio bateu em R$ 2,45 por dólar. Por outro lado, apesar das intervenções importantes do Banco Central no mercado cambial, o Real se recupera muito pouco e, por enquanto, sempre de forma instável. Deveremos, neste ritmo, queimar US$ 60 bilhões até o final do ano tentando segurar o câmbio. Por fim, neste contexto, contrariamente ao que ocorreu recentemente, quando alguns juros baixaram pela pressão política do governo, embora também aí o movimento tenha sido um enorme erro de avaliação, os juros no país, que voltaram a se elevar neste ano, continuarão subindo, puxados pelo aumento na taxa Selic (hoje em 9% ao ano).

ERROS DE AVALIAÇÃO (III)
Assim, já é de bom alvitre esperar que a Selic termine 2013 ao redor de 10%, embora, mais uma vez por questões políticas, o governo relute em realizar tal movimento, mesmo que necessário e já urgente. Afinal, juros mais altos atraem dólares, fato que pode auxiliar na contenção da desvalorização do Real, além de segurar em parte a inflação real que se aproxima. Obviamente, o preço maior a pagar por tudo isso é um crescimento econômico pífio não só para 2013, já consolidado, mas também para 2014. Além disso, é óbvio que medidas duras de correção estrutural terão que ser feitas e, se por razões eleitorais o governo não as fizer ainda neste ano (e estamos longe de verificar isso), teremos que fazê-las em 2015, seja quem for o eleito. Portanto, preparemo-nos, pois os efeitos da grande crise mundial apenas estão chegando ao país na medida em que foram temporariamente desviados pelas medidas públicas que agora se esgotam e cobram seu preço. Dito de outra forma, perdemos a oportunidade, durante a crise, de colocar a casa em dia (pelo contrário, apenas pioramos a situação empurrando o problema de “barriga”) e, agora, quando o mundo começa a sair da recessão nós entramos, mais uma vez, em marasmo econômico e sem timoneiro para nos conduzir a uma realidade melhor. E não foi por falta de aviso! Inclusive, desta feita, embora tardiamente, aviso este também procedente das ruas.


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