Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
01/09/2013
ERROS DE AVALIAÇÃO
Ou
o governo, personificado no ministro Mantega, não está enxergando o que
acontece na área cambial ou, como deve ser o caso, não quer dizer, por razões
políticas, o que realmente está percebendo. Mas uma coisa é certa: a
desvalorização cambial está longe de ser apenas um processo causado pela
possibilidade de os EUA reduzirem os estímulos à sua economia. Dito de outra
maneira, é possível creditar 30% do que ocorre com o nosso câmbio a este fato
externo, que ainda não se concretizou, pois o governo estadunidense não sabe
exatamente se a sua economia está efetivamente iniciando um processo de
recuperação, mesmo que tímido, a ponto de não necessitar mais dos US$ 85
bilhões mensais que está injetando ao consumo. Isso explica porque as demais
moedas do mundo emergente igualmente se desvalorizam. Todavia, a intensidade
maior da desvalorização do Real se deve ao descontrole interno de nossa
economia, para o qual podemos creditar os outros 70% do movimento de
enfraquecimento de nossa moeda. O descrédito para com a nossa economia, que vem
desde o final do ano passado, por parte do resto mundo e, particularmente, por
parte do capital internacional, a partir do momento em que se confirmou que o
governo brasileiro estava maquiando dados econômicos para esconder a realidade,
está por trás desta situação mais aguda. Na prática, está saindo mais dólares
do que entra no país, além de muitos investidores e especuladores estarem mais
receosos de colocarem seus recursos no Brasil. Faz tempo que deixamos de ser a
“menina dos olhos” do mundo emergente, para tais capitais. Para piorar o quadro,
nossa balança comercial, mesmo com o atual câmbio, até meados de agosto
registra um déficit superior a US$ 4 bilhões contra um superávit acima de US$
11 bilhões em igual período do ano passado. Isso significa menos entrada de
dólares também pelo lado comercial, junto ao setor produtivo nacional.
Resultado: nossa balança de transações correntes deverá fechar o ano com um
déficit recorde ao redor de US$ 70 bilhões. Portanto, publicamente o governo
erra na avaliação das causas da atual crise cambial que, por sinal, a classifica
de minicrise, na linha da “marolinha” usada pelo ex-presidente Lula quando se
referiu ao impacto da crise mundial de 2007/08 sobre o Brasil.
ERROS DE AVALIAÇÃO (II)
Mas
o erro de avaliação não pára aí. O governo considera que a atual crise cambial
terá impacto menor sobre o Brasil do que a provocada pelo estouro econômico ocorrido
na Europa entre 2010 e 2012. Ora, naquela oportunidade a economia brasileira
ainda estava em alta, mesmo que de forma insustentável, a inflação nacional
tinha melhor controle, e a confiança dos investidores internacionais para com o
Brasil chegava ao seu ápice. Hoje vivemos uma situação totalmente contrária.
Portanto, somente na inflação nacional, que já está assustando há meses, o
impacto já será maior para o brasileiro, pois nossas importações ficaram, em
menos de quatro meses, 22,5% mais caras quando o câmbio bateu em R$ 2,45 por
dólar. Por outro lado, apesar das intervenções importantes do Banco Central no
mercado cambial, o Real se recupera muito pouco e, por enquanto, sempre de
forma instável. Deveremos, neste ritmo, queimar US$ 60 bilhões até o final do
ano tentando segurar o câmbio. Por fim, neste contexto, contrariamente ao que
ocorreu recentemente, quando alguns juros baixaram pela pressão política do
governo, embora também aí o movimento tenha sido um enorme erro de avaliação,
os juros no país, que voltaram a se elevar neste ano, continuarão subindo,
puxados pelo aumento na taxa Selic (hoje em 9% ao ano).
ERROS DE AVALIAÇÃO (III)
Assim,
já é de bom alvitre esperar que a Selic termine 2013 ao redor de 10%, embora,
mais uma vez por questões políticas, o governo relute em realizar tal
movimento, mesmo que necessário e já urgente. Afinal, juros mais altos atraem
dólares, fato que pode auxiliar na contenção da desvalorização do Real, além de
segurar em parte a inflação real que se aproxima. Obviamente, o preço maior a
pagar por tudo isso é um crescimento econômico pífio não só para 2013, já
consolidado, mas também para 2014. Além disso, é óbvio que medidas duras de
correção estrutural terão que ser feitas e, se por razões eleitorais o governo
não as fizer ainda neste ano (e estamos longe de verificar isso), teremos que
fazê-las em 2015, seja quem for o eleito. Portanto, preparemo-nos, pois os
efeitos da grande crise mundial apenas estão chegando ao país na medida em que
foram temporariamente desviados pelas medidas públicas que agora se esgotam e
cobram seu preço. Dito de outra forma, perdemos a oportunidade, durante a
crise, de colocar a casa em dia (pelo contrário, apenas pioramos a situação
empurrando o problema de “barriga”) e, agora, quando o mundo começa a sair da
recessão nós entramos, mais uma vez, em marasmo econômico e sem timoneiro para
nos conduzir a uma realidade melhor. E não foi por falta de aviso! Inclusive,
desta feita, embora tardiamente, aviso este também procedente das ruas.