Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
18/08/2013
BALANÇA COMERCIAL PATINA
APESAR DO CÂMBIO
Ao
alcançar R$ 2,35 por dólar nesta semana de agosto, a moeda brasileira registra,
desde meados de maio deste ano (em três meses, portanto) uma desvalorização de
17,5%. A mesma já ultrapassou os limites da normalidade a se julgar correta a
análise do FMI de que o Real, a partir da média de 2012 (R$ 1,96) deveria se
desvalorizar entre 10% a 15% para alcançar a paridade de poder de compra
normal. Ou seja, nestas condições a moeda brasileira deveria oscilar entre R$
2,15 e R$ 2,25 para ficar em sua normalidade perante o dólar dos EUA.
Obviamente, o mercado, receoso com a condução da economia brasileira, não
entende desta maneira e vem especulando fortemente contra o Real, testando os
limites de atuação de nosso Banco Central quanto a sua capacidade de controlar
o câmbio via a venda de dólares oriundos das reservas. Todavia, em um
determinado momento um ajuste terá que ser feito. Nem que para isso o governo
se veja obrigado a acelerar o aumento da taxa Selic, buscando não só controlar
a pressão inflacionária mas igualmente atrair mais dólares ao país para
estabilizar o câmbio. Enquanto isso não ocorre, os efeitos de uma
desvalorização cambial acima do normal se fazem sentir. A partir deste mês de
agosto os preços dos produtos importados e daqueles que possuem componentes
importados deverão iniciar um processo de alta, pressionando a inflação
nacional. Em não havendo maquiagens oficiais sobre os números, os futuros
índices inflacionários poderão ser mais elevados do que o esperado, devendo
comprometer o objetivo mínimo de, pelo menos, fechar 2013 com uma inflação
oficial menor do que os 5,8% do ano passado. Por outro lado, como é do
conhecimento geral, uma desvalorização cambial desta envergadura favorece o
setor exportador, pois o mesmo ganha mais reais para cada dólar vendido no
exterior. Isso explica, por exemplo, a nova performance dos preços da soja no
momento.
BALANÇA COMERCIAL PATINA
APESAR DO CÂMBIO (II)
Nesta
semana, a média da soja no balcão gaúcho ficou em R$ 59,10/saco. Ora, se o
câmbio tivesse permanecido em R$ 2,00 por dólar, como estava até meados de
maio, o saco de soja hoje, considerando as demais variáveis, como cotações em
Chicago e prêmio no porto, não passaria de R$ 50,00. Assim, seria de se esperar
uma recuperação no comportamento da balança comercial brasileira como um todo,
já que com esse câmbio as exportações estão estimuladas e as importações menos
interessantes. Mas não é isso que se observa. É claro que devemos dar um
desconto ao fato de que são apenas três meses de moeda desvalorizada, fato que
não permite um repasse total aos exportadores. Mesmo assim, o resultado de
nossa balança comercial é decepcionante. Até o dia 11/08 o saldo comercial
brasileiro era negativo de US$ 4,4 bilhões, contra US$ 11,5 bilhões positivos
no mesmo período de 2012. Ora, a média cambial deste ano é muito melhor do que
o R$ 1,96 do ano passado. Portanto, nossa péssima performance comercial não
está exatamente ligada ao câmbio e sim a fatores como a baixa competitividade
de nossos produtos. Nesta cadência, será de comemorar se fecharmos o ano com um
saldo zero, o que obviamente irá comprometer o resultado da já deficitária
balança de transações correntes. Dito de outra forma, a forte desvalorização do
Real ainda não trouxe efeitos positivos para o comércio exterior brasileiro e
provavelmente não o trará, pelo menos neste ano. Afinal, até meados de agosto
as exportações ainda registravam um recuo de 2,77% sobre igual período do ano
passado, enquanto as importações aumentaram em 8,8% na mesma oportunidade.
Diante deste quadro externo e com o mercado interno reduzindo seu ímpeto, é
compreensível que o setor produtivo brasileiro enfrente enormes dificuldades e
passe, paulatinamente, a desempregar apesar das medidas de apoio oficiais.