Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
16/06/2013
O REAL TENDE A SE REVALORIZAR
A
moeda brasileira, a partir do final de maio, sofre um surto de desvalorização
acentuado, preocupando o governo. O valor da mesma, ao redor de R$ 2,14 nesta
segunda semana de junho, ultrapassa a paridade de poder compra se calculada a
contar de janeiro de 1999, a qual oscila ao redor de R$ 1,95 a R$ 2,00. Tal
valor hoje praticado, embora favoreça aos exportadores, implica em importarmos
inflação, pois todo o produto comprado no exterior fica mais caro. Exatamente
num momento em que passamos a lutar para reduzir tal flagelo (no acumulado de
12 meses – junho/12 a maio/13 – a inflação nacional chega a 6,5% - teto da meta
-, com tendência a aumentar nos próximos meses). Isso levou o governo a rever
sua política econômica, passando a aumentar a taxa básica de juros (Selic)
desde abril passado (hoje a mesma está em 8% ao ano, podendo chegar a 9,5% no
final de 2013). Dinheiro mais caro retrai o consumo e, até mesmo, o
investimento privado, podendo derrubar os preços, embora igualmente freie a
economia, já extremamente combalida. Mas juros elevados atraem dólares
especulativos para o país, tendendo a revalorizar o Real num horizonte de
relativo curto prazo. Todavia, o problema maior ainda não é esse. Ocorre que os
gastos desenfreados dos brasileiros e do governo, enquanto a crise
econômico-financeira avançava, voltaram a constituir um déficit na chamada
balança de transações correntes.
O REAL TENDE A SE REVALORIZAR
(II)
Tal
balança é composta por três balanças intermediárias: balança comercial (saldo
das exportações em relação às importações de bens feitas pelo país); balança de
serviços e rendas (turismo, juros da dívida externa, fretes internacionais etc...)
e transações unilaterais (doações realizadas e recebidas). Ou seja, o saldo da
balança de transações correntes é o resultado do funcionamento da economia
real, já que a outra conta representa a entrada e saída de capitais produtivos,
especulativos, derivativos, títulos de renda fixa, ações de companhias etc... O
resultado final do confronto destas contas resulta no saldo do balanço de
pagamentos. Em esse sendo negativo, o país tira de suas reservas internacionais
para cobrir “o rombo” e vice-versa. No caso do Brasil, um resultado negativo
nas transações correntes é geralmente sinônimo de déficit no balanço de
pagamentos final e, portanto, redução das reservas. De 2008 para cá é isso que
estamos assistindo de forma assustadora. Em nosso histórico, quando tais saldos
começaram a ser registrados em 1947, assistimos a um déficit nas transações
correntes no valor de US$ 204 milhões. O pior momento se deu em 1998 quando o
déficit atingiu a US$ 33,4 bilhões. Isso fragilizou tanto a economia que o país
foi obrigado a dar a famosa guinada no Plano Real, construindo um tripé de
sustentação da estabilidade iniciada em 1994, formado pela prática do câmbio
flutuante, a constituição de superávit primário anual e a meta inflacionária
(manter a inflação anual entre 2,5% e 6,5%).
O REAL TENDE A SE REVALORIZAR
(III)
Esta
reação e a recuperação temporária da economia mundial permitiu a retomada de
superávits na balança de transações correntes a partir de 2003 (US$ 4,18
bilhões). Todavia, com o estouro da crise mundial atual e o descontrole oficial
das contas nacionais, entramos em um ciclo de déficits recordes a partir de
2008 (-US$ 28,2 bilhões). Em 2012 o mesmo fechou negativo em US$ 54,2 bilhões e
nos últimos 12 meses (maio/12-abril/13) o mesmo atinge a US$ 70 bilhões ou um
pouco mais de 3% do PIB. Ou seja, está pavimentada a estrada para uma nova e
grave crise econômica nacional, cujos sintomas vêm surgindo de todos os lados
nos últimos três anos. Mais uma herança do populismo econômico, acelerado no
final do segundo mandato do presidente Lula. Como tal problema não pode ser
resolvido pela tradicional prática da desvalorização da moeda nacional, que
ensaiou tal movimento nas últimas duas semanas, devido a pressão inflacionária
que a política consumista oficial provocou, antes de termos consolidado uma
política de investimentos em infraestrutura, o governo parte agora para uma
política ao contrário: atrair dólares para o país. É neste contexto que entra a
redução do IOF de 6% para zero para toda divisa estrangeira que entrar no país
a partir de agora. Além disso, com a privatização/concessão para a iniciativa
privada de aeroportos, rodovias, portos, ferrovias, blocos de petróleo e gás do
Pré-Sal etc... o governo espera uma forte entrada de moeda estrangeira. Isso,
somado ao aumento da Selic, deverá atrair dólares e revalorizar o Real até o
final do ano, com nossa moeda voltando para níveis entre R$ 1,90 e R$ 2,00 por
dólar. Obviamente, desde que o governo corrija a desastrada condução da
política econômica, realizada nos últimos anos, para que o capital
internacional, especialmente o produtivo, volte a acreditar no Brasil e venha
novamente aqui aportar.