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segunda-feira, 17 de junho de 2013

TENDÊNCIAS



Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
16/06/2013




O REAL TENDE A SE REVALORIZAR
A moeda brasileira, a partir do final de maio, sofre um surto de desvalorização acentuado, preocupando o governo. O valor da mesma, ao redor de R$ 2,14 nesta segunda semana de junho, ultrapassa a paridade de poder compra se calculada a contar de janeiro de 1999, a qual oscila ao redor de R$ 1,95 a R$ 2,00. Tal valor hoje praticado, embora favoreça aos exportadores, implica em importarmos inflação, pois todo o produto comprado no exterior fica mais caro. Exatamente num momento em que passamos a lutar para reduzir tal flagelo (no acumulado de 12 meses – junho/12 a maio/13 – a inflação nacional chega a 6,5% - teto da meta -, com tendência a aumentar nos próximos meses). Isso levou o governo a rever sua política econômica, passando a aumentar a taxa básica de juros (Selic) desde abril passado (hoje a mesma está em 8% ao ano, podendo chegar a 9,5% no final de 2013). Dinheiro mais caro retrai o consumo e, até mesmo, o investimento privado, podendo derrubar os preços, embora igualmente freie a economia, já extremamente combalida. Mas juros elevados atraem dólares especulativos para o país, tendendo a revalorizar o Real num horizonte de relativo curto prazo. Todavia, o problema maior ainda não é esse. Ocorre que os gastos desenfreados dos brasileiros e do governo, enquanto a crise econômico-financeira avançava, voltaram a constituir um déficit na chamada balança de transações correntes.

O REAL TENDE A SE REVALORIZAR (II)
Tal balança é composta por três balanças intermediárias: balança comercial (saldo das exportações em relação às importações de bens feitas pelo país); balança de serviços e rendas (turismo, juros da dívida externa, fretes internacionais etc...) e transações unilaterais (doações realizadas e recebidas). Ou seja, o saldo da balança de transações correntes é o resultado do funcionamento da economia real, já que a outra conta representa a entrada e saída de capitais produtivos, especulativos, derivativos, títulos de renda fixa, ações de companhias etc... O resultado final do confronto destas contas resulta no saldo do balanço de pagamentos. Em esse sendo negativo, o país tira de suas reservas internacionais para cobrir “o rombo” e vice-versa. No caso do Brasil, um resultado negativo nas transações correntes é geralmente sinônimo de déficit no balanço de pagamentos final e, portanto, redução das reservas. De 2008 para cá é isso que estamos assistindo de forma assustadora. Em nosso histórico, quando tais saldos começaram a ser registrados em 1947, assistimos a um déficit nas transações correntes no valor de US$ 204 milhões. O pior momento se deu em 1998 quando o déficit atingiu a US$ 33,4 bilhões. Isso fragilizou tanto a economia que o país foi obrigado a dar a famosa guinada no Plano Real, construindo um tripé de sustentação da estabilidade iniciada em 1994, formado pela prática do câmbio flutuante, a constituição de superávit primário anual e a meta inflacionária (manter a inflação anual entre 2,5% e 6,5%).

O REAL TENDE A SE REVALORIZAR (III)
Esta reação e a recuperação temporária da economia mundial permitiu a retomada de superávits na balança de transações correntes a partir de 2003 (US$ 4,18 bilhões). Todavia, com o estouro da crise mundial atual e o descontrole oficial das contas nacionais, entramos em um ciclo de déficits recordes a partir de 2008 (-US$ 28,2 bilhões). Em 2012 o mesmo fechou negativo em US$ 54,2 bilhões e nos últimos 12 meses (maio/12-abril/13) o mesmo atinge a US$ 70 bilhões ou um pouco mais de 3% do PIB. Ou seja, está pavimentada a estrada para uma nova e grave crise econômica nacional, cujos sintomas vêm surgindo de todos os lados nos últimos três anos. Mais uma herança do populismo econômico, acelerado no final do segundo mandato do presidente Lula. Como tal problema não pode ser resolvido pela tradicional prática da desvalorização da moeda nacional, que ensaiou tal movimento nas últimas duas semanas, devido a pressão inflacionária que a política consumista oficial provocou, antes de termos consolidado uma política de investimentos em infraestrutura, o governo parte agora para uma política ao contrário: atrair dólares para o país. É neste contexto que entra a redução do IOF de 6% para zero para toda divisa estrangeira que entrar no país a partir de agora. Além disso, com a privatização/concessão para a iniciativa privada de aeroportos, rodovias, portos, ferrovias, blocos de petróleo e gás do Pré-Sal etc... o governo espera uma forte entrada de moeda estrangeira. Isso, somado ao aumento da Selic, deverá atrair dólares e revalorizar o Real até o final do ano, com nossa moeda voltando para níveis entre R$ 1,90 e R$ 2,00 por dólar. Obviamente, desde que o governo corrija a desastrada condução da política econômica, realizada nos últimos anos, para que o capital internacional, especialmente o produtivo, volte a acreditar no Brasil e venha novamente aqui aportar.
 

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