Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
O FUTURO BRASILEIRO EM JOGO (I)
Por
ocasião do 1º de maio deste ano, Dia do Trabalho, dois assuntos predominaram nos
debates nacionais: inflação e emprego. Nesse contexto, surgiram duas ideias,
dentre tantas, que merecem uma análise mais apurada: voltar a indexar o
reajuste salarial, fazendo com que o mesmo aconteça a cada trimestre conforme o
comportamento inflacionário; gerar desemprego seria a saída para conter a
inflação. Nenhuma delas se sustenta se realmente desejamos manter o país na
estabilidade econômica e pensamos em gerar reais condições para, um dia,
chegarmos ao almejado desenvolvimento. Em primeiro lugar, recuperar a
famigerada indexação dos salários, embora a economia ainda tenha muito desta
prática em diferentes setores, é um retrocesso. A ideia, que vem de algumas
Centrais Sindicais, seria um “tiro do pé” para os próprios trabalhadores. Isso
porque a inflação nacional atual, embora elevada (no acumulado do ano atinge a
6,49%) ainda não justifica medidas deste tipo, que tinham alguma razão em
épocas de hiperinflação. Hoje, a adoção de tal medida iria alimentar a
inflação, sem um correspondente aumento de competitividade do trabalho (algo
que já se percebe há alguns anos no país), além de elevar o desemprego, pois
nesta combinação de salários elevados e baixa produtividade não há empresário
que resista por muito tempo. Em segundo lugar, se é verdade que o desemprego
tende a gerar menor pressão sobre os preços, esta medida não é desejável e nem
mesmo aceitável em um país como o nosso. Para gerar desemprego teríamos que
frear a economia, realidade que já estamos vivendo há dois anos e que deveremos
continuar vivenciando nos próximos anos caso a crise mundial não se resolva. E
mesmo assim, em alguns setores existe quase o chamado “pleno emprego”, um
conceito um tanto vago para a realidade política brasileira. Por outro lado, a
necessidade de aumentar o juro básico (Selic) para conter a inflação, no curto
prazo, já estará atuando no sentido de frear a economia. Portanto, também não
serve! O que precisamos mesmo são medidas mais profundas e objetivas. Não é
novidade para ninguém, embora o país não consiga as executar, que o necessário
para conter a inflação, melhorar a estabilidade econômica e gerar as condições
para um real crescimento, adequado às demandas nacionais, seguido de um
desenvolvimento mais equilibrado, são as reformas estruturais no Estado
nacional e no seu funcionamento.
O FUTURO BRASILEIRO EM
JOGO (II)
Trata-se
das conhecidas reformas administrativa, tributária, fiscal, trabalhista,
política, judicial, previdenciária, educacional e tantas outras que precisariam
ser feitas com o sentido de se pensar um Brasil para o futuro, com ganhos para
o conjunto da sociedade. Como é o individualismo e o corporativismo que impera
neste país subdesenvolvido que somos, nada acontece. Um simples exemplo de
nossa incompetência em realizarmos o que se deve realizar pode ser dado com notícias
que circularam na imprensa nesta semana: 1) Portugal, que abusou de consumir
sem poupar, durante anos, está no olho da atual crise mundial. Para obter
crédito internacional e tentar sair do buraco onde se meteu, o país acaba de
decidir demitir 30.000 funcionários públicos, cortar 10% dos gastos dos
ministérios em 2014, mudar a idade da aposentadoria para os funcionários
públicos e aumentar a jornada de trabalho deste funcionalismo de 35 para 40
horas semanais; 2) aqui no Brasil, onde tanto precisamos de reformas,
caminhamos a passos largos para sermos amanhã o Portugal, a Espanha ou a Grécia
de hoje, muitos lutam para reduzir a jornada de trabalho para 35 horas
semanais; manter os privilégios em todas as esferas de governo, inclusive as
municipais; o Estado continua gastando em bobagens de toda a ordem (acabamos de
descobrir que o presidente do Senado, Renan Calheiros, às voltas com escândalos
de toda ordem, mantém mordomo ganhando R$ 18.000,00 mensais para servir
cafezinho, inclusive em sua residência oficial; descobrimos igualmente que o
Senado paga até R$ 20.000,00 mensais por funcionário para que os mesmos
realizem o despacho das bagagens dos senadores no aeroporto de Brasília; e
assim por diante). Qual a diferença entre Portugal e Brasil? Portugal já passou
pela realidade do gasto fácil sem muito trabalho e agora, após afundar na
crise, age duramente para recuperar sua economia, o que levará anos. O Brasil,
com pouca visão de futuro e ignorando os exemplos mundiais, continua agindo na
direção do precipício da crise estatal sem retorno, incapaz de mudar de rumo e
evitar que venhamos a afundar, nos próximos anos, com todas as conseqüências
sociais nefastas que nos esperam. Ou o povo acorda ou ........