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segunda-feira, 18 de agosto de 2025

TARIFAÇO DE TRUMP: NOVAS REFLEXÕES (II) (Prof. Dr. Argemiro Luís Brum)

Outro grave erro que Trump e seus assessores cometem, ao adotar a estratégia do tarifaço sobre o mundo, visando resolver seus problemas econômicos internos, está no fato de que eles não percebem que a base que elegeu Trump não tem ensino superior. Esta base é formada pelos grupos sociais que foram afetados pelas grandes mudanças tecnológicas das últimas décadas. Essas mudanças reduziram muito a demanda pelo trabalhador com nível educacional de ensino médio completo e sem curso superior. A aplicação de tarifas comerciais em nada resolve isso. O que elas tendem a provocar é um “choque desinflacionário para o mundo, com a exceção da economia estadunidense, cujo choque será inflacionário, podendo os EUA entrar, nos próximos meses, em uma situação de desaceleração que leva à recessão econômica, em meio à aceleração da inflação”. Por sua vez, a desorganização das cadeias de valor não deverá ser muito forte. O comércio mais afetado será o comércio bilateral dos EUA com a China, onde “haverá uma forte redução da demanda dos EUA por manufaturas chinesas. Nos EUA, o preço desses bens elevar-se-á muito e, na China, haverá a formação de uma elevada capacidade ociosa na indústria. Porém, é bom lembrar que as empresas chinesas podem buscar novos mercados. A China inundará o mundo com sua oferta excedente de bens, o que contribuirá para a redução dos preços. O governo chinês deve promover o consumo doméstico desse excedente, por meio de programas que permitam a aquisição, pela população, com fortes subsídios públicos. No limite, pode criar políticas públicas que sustentem a renda do setor, com redução da produção, financiando parte dos custos das empresas, por exemplo, parte da folha de salários, como se fez em muitos países na pandemia, ou mesmo ajudando no financiamento de estoques”. Os EUA perceberam isso e, pela segunda vez, anunciam uma trégua de 90 dias para a aplicação do tarifaço pleno sobre a China, buscando uma saída honrosa. A reação dos mercados tem sido tratar a economia americana como uma economia emergente. A desvalorização do dólar no cenário global, inclusive frente ao Real, dá uma ideia de “como os mercados financeiros têm punido a desastrada política econômica do segundo governo Trump” (cf. Pessôa, S. Revista Conjuntura Econômica-FGV, maio/25, pp. 12-16).

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