Os brasileiros
convivem, há décadas, com a expectativa de, um dia, alcançarem o
desenvolvimento socioeconômico. Mas o “país do futuro”, slogan muito usado na
segunda metade do século XX, nunca alcança este dito futuro. Já é largamente
sabido que apenas gerar crescimento econômico (PIB elevado) não é suficiente
para se chegar ao desenvolvimento, especialmente sustentável, que integre toda
a Nação e seja inclusivo, oferecendo melhoria de qualidade de vida a todos os
brasileiros. Exemplo: o Brasil, em PIB, está entre os 10 maiores países do
mundo, enquanto a Suíça está em 20º e a Noruega em 32º lugar. Por sua vez, a
população continua empobrecendo, na média, enquanto uma minoria enriquece. Na
escala internacional, em termos de renda per capita, em 2003 estávamos em 70º
lugar, recuando para 85º lugar em 2023 (cf. Banco Mundial). A concentração de
renda se mantém absurda: os 10% mais ricos possuem três vezes mais renda do que
os 50% de brasileiros que estão “na base na pirâmide populacional”. Segundo
estudo da FGV, entre 2017 e 2022 “o aumento de renda dos 1% mais ricos foi de
67%, enquanto o de 95% da população foi de 33%, a preços correntes”. Em termos
de posse de patrimônio e riqueza, em janeiro de 2024, “1% dos brasileiros
possuíam 63% do total e os 50% de menor renda apenas 2%” (cf. Fórum Econômico
Mundial). Sem falar nas enormes diferenças dentro do próprio país, caso do
Norte e Nordeste em relação ao Sul e Sudeste, por exemplo. Por outro lado,
quase nenhuma Nação no mundo possui o potencial que temos para chegarmos a um
real desenvolvimento socioeconômico. Por que não o conseguimos? Porque a nossa
sociedade não consegue mudar sua postura de mediocridade, preferindo acreditar
em “salvadores da pátria” ao invés de estadistas (os atuais acontecimentos em
torno dos ataques de Trump confirmam isso). Porque faz algum tempo que não
temos estadistas com capacidade de mobilizar a população no “sentido adequado”.
Porque, hoje, praticamente não temos personagens públicas deste nível. E os brasileiros
com esta virtude raramente são eleitos. Com isso, como já dizia Platão, a Nação
“pode acabar governada por seus inferiores” (cf. Conjuntura Econômica, FGV,
junho/25, pp. 42-43).