O uso do artifício
protecionista da tarifa aduaneira se justifica em alguns casos: defesa da segurança
nacional; elevado desemprego causado por importações específicas; déficit
comercial muito elevado com países específicos; compensação diante de produtos
importados com subsídios etc. Nenhum destes motivos justifica a tarifa unilateral
de 50% sobre os produtos brasileiros, imposta por Trump na semana passada. Além
disso, a ação veio acompanhada por declarações tecnicamente mentirosas, a
saber: “os EUA são deficitários no comércio realizado com o Brasil”. A
realidade mostra exatamente o contrário: nos últimos 10 anos o superávit
comercial dos EUA, em relação ao Brasil, supera os US$ 400 bilhões. Somente no primeiro semestre de 2025 o mesmo
aumentou em 500%, alcançando US$ 1,7 bilhão na comparação com o mesmo período
do ano anterior. Portanto, o tarifaço de Trump não tem natureza
econômico-comercial. Este é o primeiro ponto do fato. O que se tem é uma
decisão de cunho político, ligada ao desespero da família Bolsonaro (e de
alguns seguidores) diante do aperto que a justiça brasileira vem fazendo a
partir da tentativa de golpe contra a democracia brasileira, em 8 de janeiro de
2023, impetrada pelos mesmos. A ponto de criarem narrativas que constantemente
modificam a realidade. Na defesa de seus interesses pessoais, os mesmos atacam
a Nação brasileira, considerando uma vitória a decisão de Trump. Ora, a mesma
empobrece o país, gera desemprego por aqui, atinge em cheio, negativamente,
setores como o agronegócio, a indústria, empresários e trabalhadores em geral, além
de gerar distúrbios cambiais que, por sua vez, tendem a alimentar a inflação, e
por aí vai. Portanto, uma ação que, de patriota, não tem nada. Muito antes pelo
contrário. Este é o segundo ponto do fato. Enfim, já que a situação está posta,
cabe ao governo brasileiro saber o que fazer diante dos acontecimentos. Além de
uma resposta diplomática adequada, ao invés de adotar a reciprocidade (salvo em
último caso, pois ela penalizará também os brasileiros), o caminho é a
negociação, com sabedoria. Para isso, ótimos técnicos o país tem, o que
preocupa é a emoção política, a qual pode nos levar a perder a racionalidade em
negociar, levando o país a se nivelar à mediocridade dos provocadores.