Entre julho/94 (início do Plano Real) e dezembro/18 (final do mandato tampão do governo Temer) o salário mínimo brasileiro aumentou 1.372%. Ao mesmo tempo, a inflação nacional oficial cresceu 495%. Isso resulta em um ganho real, no salário mínimo, de 877 pontos percentuais no período. No atual governo, entre janeiro/19 e fevereiro/22 o salário mínimo aumentou 21,4%, enquanto a inflação oficial cresceu 21,85%. Ou seja, há uma perda real salarial de 0,45 ponto percentual. Alguns estudos indicam que até dezembro a perda real atingirá a 1,7 ponto. Colabora para isso o fato de o atual governo retirar do cálculo salarial o ganho de produtividade, implantado em 2006, através do acréscimo do crescimento do PIB de dois anos antes ao momento do reajuste. Assim, nos últimos quatro anos o assalariado, e por extensão os aposentados pelo INSS, no Brasil, empobreceram por ação direta da política econômica oficial. Para além disso, o empobrecimento é ainda maior porque a inflação real, que pesa no bolso do cidadão em geral, tem sido muito maior do que o índice oficial nestes últimos anos. E ainda há os efeitos da pandemia da Covid e das secas constantes que parte do Brasil vem sofrendo. Mas o quadro negativo não para aí. O reajuste dos salários em geral vem perdendo para a inflação. Em 2021, 47% das categorias de trabalhadores ficaram com reajuste salarial abaixo da inflação. Em 2022, na data-base de fevereiro, 60,5% dos 119 reajustes realizados ficaram abaixo da inflação. E apenas 24,4% acima da inflação. Esta degradação do poder de compra, freia a dinâmica da economia e impede um avanço do crescimento. Afinal, de que forma o consumo interno pode puxar o PIB se todos os salários dos 95 milhões de ocupados no país, em 2021, representavam menos de um terço do PIB, ou seja, 30,2%, sendo que somente entre 2020 e 2021 a renda do trabalho encolheu R$ 18 bilhões no país. E só não é pior porque as momentâneas transferências de renda do governo vêm ajudando. Porém, a disparada inflacionária, há mais de 12 meses, corrói amplamente esta ajuda emergencial. Assim, para 2022 calcula-se que tal renda recue mais 4% na média do ano. Quem coloca isso na conta da pandemia, e espera melhoras, de forma geral, daqui em diante, sem cogitar mudanças nas causas estruturais deste quadro, pode continuar sonhando. (segue)
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