Em 2020, ao ser perguntado se o câmbio no Brasil ultrapassaria os R$ 5,00 por dólar, o ministro da Economia, Paulo Guedes, respondeu: “Se fizer muita besteira, ele pode chegar a este nível.” Pois bem, na sequência ele próprio, e o governo em geral, acabaram fazendo besteiras em níveis “industriais”. Resultado: ingressamos no novo ano com um câmbio ao redor de R$ 5,70 (salvo poucos dias, o câmbio jamais voltou abaixo de R$ 5,00 desde o dia 17/03/20, ou seja, há quase dois anos). E como o câmbio é um dos principais elementos de nossa inflação atual, teremos um 2022 pressionado por ela. É possível que recue para 5% a 6%, porém, o custo será um forte aumento na Selic, o qual pode atingir entre 11% a 12% em 2022, antes de baixar um pouco. E juro alto prejudica a retomada econômica, a qual, pelos dois últimos trimestres, já está nos colocando em recessão técnica. O remédio monetário contra a inflação provoca o efeito colateral de enfraquecer a economia. É por isso que as projeções, para 2022, avançam um PIB entre -0,5% e +0,5% apenas. Ora, sem reação da economia não há geração de empregos formais suficientes e, muito menos, remuneradores (90% da população brasileira na formalidade ganha menos de R$ 3 mil mensais na atualidade). Com isso, na economia, 2022 se desenha, infelizmente, pior do que 2021, o qual já foi péssimo. Tanto é verdade que a agência de risco Fitch Ratings reafirmou nosso “selo de mau pagador”, com perspectiva negativa. Soma-se a isso o fato de termos eleições gerais no final do próximo ano, o que sempre nos gera distúrbios econômicos elevados. Esperando ainda que a cepa ômicrom, da Covid, não venha a nos atingir fortemente. Além disso, temos mais uma seca provocando estragos importantes na agropecuária do sul do país; um déficit fiscal elevado e crescente; o governo rompendo o “teto dos gastos públicos”; e o Congresso Nacional, reforçando sua irresponsabilidade, oficializando um fundo partidário de R$ 5,7 bilhões para 2022. E a grande maioria dos brasileiros, em tal contexto? Bem, esta continua a se defender como pode, com o risco de chegar às eleições de outubro próximo e ter de escolher entre o abismo e o penhasco.
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