O tombo
de 9,7% no PIB brasileiro do segundo trimestre não foi surpresa. Ficou dentro
do que se esperava, diante da crise recessiva provocada pela Covid-19. O que é
mais revelador está nas entrelinhas. Primeiro: o IBGE revisou ainda mais para
baixo o PIB do primeiro trimestre do ano. Agora o tombo é de 2,5% e não de
1,5%, consolidando uma recessão econômica mais forte, sem nem termos saído dos
efeitos negativos daquela de 2015-2016. Mais grave ainda, o tombo no primeiro
semestre não pode ser computado especificamente ao coronavírus, já que seus
efeitos na economia brasileira aparecem somente na última quinzena do trimestre
(segunda quinzena de março). Ou seja, a economia nacional já vinha mal antes da
chegada da pandemia no país. Segundo: mesmo com o setor primário ficando no
positivo (0,4%) o mesmo não salvou a economia. Ou seja, por mais pujante que ele
seja, a economia não pode depender apenas do setor primário. Terceiro: os
investimentos despencaram 15,4% no segundo trimestre, sendo que em relação ao
mesmo período de 2019 o recuo foi de 15,2%. Com isso, a taxa de investimento no
final de junho passado atingiu a 15% do PIB. Isso significa que os
investimentos em ativos fixos para ampliar a capacidade produtiva da economia
ficou em uma das mais baixas taxas da história recente, lembrando que o ideal é
uma taxa de 25% do PIB. E sem investimentos, não se recupera a economia, os
empregos e a renda da população. Quarto, no segundo trimestre, auge da pandemia
no espectro econômico, o consumo das famílias registrou uma queda histórica de
12,5%. E só não caiu mais graças ao apoio emergencial do governo. Isso confirma
pelo menos duas coisas: a) a pobreza no Brasil, em um contexto de crescente desigualdade
social, é imensa, atingindo mais da metade da população nacional; b) o auxílio
do governo é fundamental, porém, pela situação fiscal do Estado o mesmo tem
limites e já começa a diminuir. Ora, o consumo das famílias somente irá
melhorar se a geração de empregos retornar. Por enquanto, continuamos com um
desemprego real ao redor de 30% da População Economicamente Ativa oficial,
estando longe de sua redução a níveis adequados. Especialmente se as reformas
estruturais continuarem patinando e sendo feitas “incompletas”, mantendo
privilégios específicos e penalizando cada vez mais o setor produtivo. Se já
estava difícil antes, agora com os efeitos da pandemia o quadro estrutural se
tornou dificílimo, não permitindo que nos iludamos com estatísticas
conjunturais e discursos populistas dos governantes. Em um horizonte de médio e longo prazo, as
possibilidades de sairmos desta crise são relativamente baixas. Ou seja, sem a
retomada e o reforço da agenda de reformas e do ajuste fiscal, não haverá
recuperação rápida da economia. Na melhor das hipóteses apenas voltaremos para
o marasmo em que estávamos na pré-pandemia.
:)
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