Na economia, o governo
Bolsonaro foi eleito em cima da proposta liberal. O discurso inicial,
sustentado pelo Ministro da Economia Paulo Guedes, era de reformas profundas na
estrutura do Estado, privatizações que poderiam alcançar um trilhão de reais,
abertura comercial generalizada, e menos Estado na economia, deixando a
entender que, finalmente, o chamado “Estado eficiente” poderia ver a luz do dia
em nosso país. Um ano e meio após, grande parte de tudo isso ficou no discurso
demagógico de campanha. Mesmo que o Ministro persevere na lógica liberal,
descobre-se que ele está sozinho, sem apoio concreto nem mesmo do Presidente da
República. Assim, passada a reforma previdenciária que, embora importante, mais
uma vez não foi completa, esperava-se que a reforma administrativa, seguida da
tributária, fossem melhores. Ora, a administrativa, que é essencial, ficou no
esquecimento. Não há interesse em mexer com os servidores públicos (federais,
estaduais e municipais), especialmente os mais privilegiados. Assim, o Brasil
continuará comprometendo seu futuro. Em 2019, o país gastou 13,7% do PIB com
seus servidores, continuando a receber em troca péssimos serviços públicos.
Estes gastos são o dobro dos realizados com educação e 3,5 vezes mais do que as
despesas com saúde, que tanto nos falta nestes tempos de pandemia. Em 2018 o
país já havia sido o sétimo país que mais gastou com pessoal, dentre 64
pesquisados. Gastamos mais em pessoal no setor público do que a Suécia, França
e Alemanha, por exemplo, cujo PIB per capita é muito superior ao nosso (cf.
Instituto Millenium e FMI). E a proposta de reforma tributária está mais para
um arranjo de impostos, além de apontar para um aumento percentual de
tributação no final. Ora, se é verdade que, por enquanto, o Estado não pode
reduzir sua receita, também é verdade que, historicamente, precisamos
qualificar os gastos públicos para, em seguida, poder direcioná-los às
verdadeiras necessidades da Nação. Infelizmente, não será também neste governo.
Pelo contrário, a cada dia que passa, a partir dos naturais efeitos da ajuda
emergencial que o governo direcionou à população de baixa renda, diante da
pandemia, nota-se o mesmo inclinado a
recuperar o intervencionismo estatal na economia, utilizado largamente em nossa
história e, em particular, nos governos Lula e Dilma, visando a reeleição. Ora,
passada a pandemia, o país precisa voltar ao rigor fiscal sob pena de
afundarmos ainda mais na crise econômica criada pelo descontrole fiscal do
Estado. Como ensina a teoria econômica, gastar o recurso público tem vantagens,
pois pode gerar obras e empregos. Porém, se isso superar o limite de nossas
possibilidades, o custo dessa ação será muito maior, sob forma de aumento da
dívida pública, disparada da inflação, retomada na elevação dos juros, e
altíssimo desemprego na sequência, além de PIBs medíocres como já estamos
vivendo há uma década. Pois o Brasil há tempos chegou nesse limite, agravado
agora pelos efeitos da pandemia. Se, no governo federal, a corrente política da
gastança vencer a disputa com a corrente da racionalidade econômica, cada vez
mais fraca, diga-se de passagem, retornaremos rapidamente ao “porão que existe
no fundo do poço econômico”, poço este onde estamos há anos.
:)
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