Argemiro Luís Brum
06/06/2019
Agora oficial, o PIB do primeiro trimestre de
2019 foi negativo em 0,2% em relação ao quarto trimestre de 2018 (lembrando que
o primeiro trimestre de 2018 foi positivo em 0,5%). Ou seja, a economia
brasileira piorou neste início de ano. Aliás, a mesma nunca melhorou de fato desde
a grande recessão vivida em 2015 e 2016. Nosso pífio crescimento em 2017 e 2018
não deixava dúvidas de que estávamos diante de um voo de galinha, e dos mais
baixos. Assim, estamos à beira de mais uma recessão técnica (dois trimestres
consecutivos negativos) a julgar pelo caminhar da economia neste segundo trimestre
do ano. Com isso, logicamente a tendência para 2019 piorou. Hoje, o quadro
aponta para um PIB final entre 0,5% e 1%, quando no início do ano os mais
otimistas chegavam a apontar 3%. A abertura do PIB trimestral nos fornece algumas
explicações. Em primeiro lugar, a indústria nacional recuou 0,7% no trimestre,
consolidando, esta sim, um estágio de recessão técnica. Isto explica boa parte
do alto desemprego que temos e que aumentou desde o final do ano passado,
apesar de uma pequena melhoria no último levantamento. Em segundo lugar, a
agropecuária, que geralmente puxa a economia, neste trimestre apresentou
resultado negativo de 0,5%. Este setor enfrentou alguns problemas climáticos regionais,
assim como preços médios mais fracos. Pelo lado da demanda, além de exportações
ruins (-1,9%) tem-se investimentos em péssima situação (-1,7%). Este último
caso, também com uma segunda queda consecutiva, indica que os empresários
continuam desconfiados. As dificuldades para aprovar a reforma da previdência
alimentam o sentimento. E investimentos são a fotografia futura da economia. Ou
seja, a mesma continua desbotada. O quadro geral só não foi pior porque o
consumo das famílias cresceu 0,3% no trimestre. Todavia, trata-se de um consumo
de manutenção, ou seja, de sobrevivência. Com uma população altamente
endividada e inadimplente não se pode esperar um consumo sustentável, que
indique pela substituição de bens e pelo produto novo. E os juros reais
altíssimos aqui praticados não colaboram para uma mudança de cenário nesta
rubrica. Assim, a ilusão de uma economia em recuperação, alimentada pelo
simples fato das eleições, dá lugar a realidade de uma economia estagnada e em
recuo, flertando novamente com a recessão. Sempre afirmamos neste espaço que,
para sair do estrago econômico causado no período de 2007 a 2016, levaríamos,
pelo menos, até 2024, desde que houvesse correções de rumo neste ínterim. Por
enquanto, não está havendo e, por isso, não pode ser surpresa que nosso PIB
esteja apenas no nível do primeiro semestre de 2012 (a renda per capita média
está 9,1% abaixo do nível do começo de 2014). Já perdemos sete anos, com
tendência de perdermos muito mais se não destravarmos a economia, pois é pouca
a luz no fim do túnel da crise que vivemos.