Argemiro Luís Brum
13/06/2019
Sem interromper (e reduzir) a trajetória dos
gastos públicos, o que exige reformas estruturais sabidas, o risco de
insolvência do país continuará crescendo e, com isso, será difícil retomar o
investimento e o crescimento do PIB. E sem retomada deste, não haverá geração
de empregos e melhoria na renda média dos brasileiros. O que fazer diante de
tal cenário? Destravar a economia! Como fazê-lo? Além de reformas estruturais
consistentes, que igualmente diminuam a desigualdade social, e não somente
encaminhem soluções para o déficit público, necessário se faz aumentar a
produtividade do trabalho no país. Neste último caso, a realidade é preocupante
e pouco dela se fala. Entre 1982 e 2018 a produtividade por hora trabalhada
cresceu apenas 0,4% ao ano no Brasil. Uma das mais baixas, senão a mais baixa
da América Latina. E sem produtividade não há crescimento de longo prazo. Ora,
para que se aumente a produtividade precisamos abrir de fato a economia com
aumento da competitividade (somos historicamente uma economia fechada,
protegida, fato que implica em baixa competitividade, pois desnecessária já que
o Estado protege a “incompetência” produtiva); aumentar a educação de qualidade
(o país, nos últimos tempos, e atualmente, faz exatamente o contrário); gerar
um bom ambiente de negócios, que reduza o custo do crédito, do investimento e
da atividade produtiva formal (algo que se tenta, porém, de forma lenta e com
muitos setores jogando contra). Neste último caso, a burocracia é um peso
enorme. Por exemplo: o tempo gasto com pagamento de impostos por hora
trabalhada é de 1.958 horas no Brasil, contra 12 horas nos Emirados Árabes
Unidos; 168 horas na Rússia; 207 horas na China; 240 horas no México, 291 horas
no Chile. Além disso, remuneramos bem acima da inflação uma mão de obra de
baixa produtividade, tirando ainda mais competitividade da economia (entre
setembro de 1994 e janeiro de 2019 o salário mínimo nacional subiu 1.326%,
enquanto a inflação oficial – IPCA – foi de 440%). O problema aqui é que o piso
de arrancada do salário mínimo foi muito baixo (R$ 70,00), ao mesmo tempo em
que o tamanho do Estado cresceu significativamente, ampliando sua ineficiência,
justamente onde se encontram os melhores salários, mas não os melhores
resultados gerados pelo trabalho. Assim, para que a produtividade aumente é
preciso, também, reduzir o tamanho do Estado, ampliando a sua eficiência (cf.
Conjuntura Econômica, FGV, maio 2019, pp. 37-45). Ora, já perdemos décadas
falando muito, porém, nada fazendo de concreto a respeito. (segue)