Argemiro Luís Brum
20/06/2019
Para destravar a economia nacional, uma das
receitas é melhorar a produtividade do trabalho nacional. Neste sentido, nos
últimos tempos, o quadro geral se agravou. O setor de serviços trabalha com
produtividade negativa desde 2014 (o mesmo representa mais de 70% da economia
nacional); a construção civil conseguiu resultado positivo neste início de ano,
após rodar no negativo desde o último trimestre de 2013 (e assim mesmo,
registrou uma expansão de apenas 0,5%); embora a indústria de transformação
tenha se recuperado um pouco nos últimos dois anos, as atividades industriais
intensivas em engenharia e P&D retrocederam em valor adicionado e pessoal
ocupado (de 2010 a 2015 o recuo foi 16% para 15,7% e 12,2% para 11,5%
respectivamente) e por aí estamos. Enquanto o mundo avança na manufatura
avançada, de alto conteúdo tecnológico e digital, o Brasil viu ganhar espaço as
atividades intensivas em recursos naturais, especialmente a fabricação de
alimentos, confirmando a reprimarização da estrutura produtiva nacional, fato
que amplia o peso das atividades com dinamismo e níveis de produtividade
inferiores. Hoje a indústria 4.0 representa apenas 4% do total da indústria
brasileira. Além disso, a falta de crescimento econômico eleva a informalidade
a qual, por sua vez, diminui a produtividade. “No Brasil, uma empresa informal
é quatro vezes menos produtiva que uma formal, sendo que a queda de
produtividade no período recessivo foi duas vezes maior devido ao aumento da
informalidade no período.”. Portanto, aí está um caminho para sairmos da crise:
qualificar o capital humano a fim de aumentarmos a produtividade do trabalho.
Infelizmente, não é isso que vem se fazendo no país, sendo que as últimas
decisões do atual governo na área só vêm piorar o quadro futuro (em 2016 o
Brasil só tinha 16,6% de sua população com educação superior completa, contra
70% na Coreia do Sul, 60% na Rússia, 41% na Espanha, 30% na Turquia e no
Chile). Por outro lado, neste momento o percentual de alunos do ensino médio
matriculados em curso técnico, concomitante ou integrado, era de apenas 9,3% no
Brasil, contra 43,6% no Portugal, 45,5% na Espanha, 70,1% na Finlândia, 75,3%
na Áustria. (cf. Conjuntura Econômica, FGV, maio 2019, pp. 37-45) Se não
melhorarmos a produtividade geral do trabalho em nossa economia, investindo
forte e adequadamente em educação e formação técnica, nunca chegaremos ao
desenvolvimento e nem mesmo sairemos desse atual estágio medíocre de
crescimento econômico.