Argemiro Luís Brum
16/05/2019
As cotações da soja, em Chicago, despencaram
nestes primeiros quinze dias de maio. O grão bateu em US$ 7,91/bushel no dia 13/05,
o mais baixo valor, para o primeiro mês cotado, em 12 anos. Ou seja, o mercado
volta aos patamares de antes da crise econômico-financeira mundial de 2007/08.
São duas as principais razões: 1) o litígio comercial entre China e EUA piorou,
com o governo estadunidense anunciando aumento de tarifas sobre produtos
chineses a partir do dia 10/05. A China responde, aumentando tarifas sobre
produtos importados dos EUA; 2) a peste suína africana, que atinge o rebanho
suinícola chinês, levando o mercado a projetar uma redução de 30% do mesmo se o
problema continuar até o final do ano. Além disso, a América do Sul confirmou uma
safra de soja em 183 milhões de toneladas, contra 170 milhões no ano anterior.
Com isso, a redução projetada na próxima safra estadunidense de soja (113
milhões de toneladas, contra 123,7 milhões no ano anterior) acabou sendo, por
enquanto, ignorada. Mesmo porque os estoques finais estadunidenses, para
2019/20, estão projetados em 26,4 milhões de toneladas, o segundo mais elevado
da história recente dos EUA. Neste contexto, os preços de balcão da soja gaúcha
acabaram recuando para valores entre R$ 60,00 e R$ 64,50/saco nas últimas
semanas. Tais preços poderiam estar piores se não fosse o câmbio. O mesmo, ao
se estabelecer perto de R$ 4,00 por dólar, freou parcialmente a queda dos
preços. Além disso, nesta semana outro fator veio favorecer a soja. Os prêmios
nos portos brasileiros voltaram a subir, puxados pela expectativa da China
comprar mais soja brasileira. Nas últimas duas semanas o prêmio no porto de Rio
Grande, em termos médios, subiu 232%, para se estabelecer em US$ 0,73/bushel. Longe
dos recordes obtidos em setembro/outubro do ano passado, porém, já bem melhores
do que estavam. Neste quadro, cabem ainda três observações: 1) as importações
da China, hoje, dependem muito mais da evolução da peste suína africana, fato
que pode frear nossos prêmios nos atuais níveis; 2) o Real deve encontrar
resistência em R$ 4,00, pois o Banco Central tende a intervir visando o
controle da inflação; 3) Chicago teria um piso de resistência em US$
7,60/bushel, pois nos atuais valores os Fundos especulativos tendem a voltar a
comprar contratos da oleaginosa, trazendo o bushel para o nível de US$ 8,00.
Assim, os preços da soja no balcão gaúcho devem estacionar, por enquanto, entre
R$ 58,00 e R$ 68,00/saco, salvo se os prêmios dispararem em Rio Grande (no ano
passado, nesta época, a soja valia R$ 76,50/saco). O problema é que os
produtores gaúchos só venderam 31% da atual safra, contra 42% na média
histórica, devendo haver pressão de oferta nas próximas semanas e meses (no
Brasil, 55% havia sido vendido, contra 62% na média histórica).