Argemiro Luís Brum
23/05/2019
A economia brasileira oferece mais um choque de
realidade aos cidadãos deste país, especialmente aos mais ingênuos que
acreditavam que bastaria trocar de governo para as coisas melhorarem. Na
verdade, havia dois caminhos conhecidos para a economia seguir: 1) o novo
governo, aproveitando-se do capital de confiança obtido nas eleições, trataria
de fazer avançar os ajustes e reformas estruturais para debelar o déficit
fiscal no médio prazo, apoiado por uma coalizão política positiva no Congresso
Nacional; 2) o novo governo, por inabilidade política e despreparo gerencial,
se perderia em questiúnculas que o desgastam, perdendo rapidamente o capital de
confiança existente antes da posse. No primeiro caso, a economia tenderia a
melhorar, com os investimentos, inclusive externos, voltando ao país com mais
força. Para isso, o mercado apostava na capacidade do Ministro da Economia e
sua equipe. No segundo caso, a economia derraparia e a crise se aprofundaria, e
nem mesmo os esforços da equipe econômica conseguiriam debelar o problema.
Infelizmente, para o Brasil, a lógica do segundo caminho se sobrepõe atualmente
no cenário nacional. Isso explica a volta do câmbio a R$ 4,10 por dólar e o
tombo da Bovespa (B3) nestes últimos dias. Estes termômetros econômicos
refletem a febre alta de uma economia gravemente doente e que não encontra os
remédios adequados. Os últimos indicadores corroboram isso: 1) elevação do
desemprego desde o final do ano, com o mesmo voltando a atingir mais de 13
milhões de brasileiros e quase 13% da população ativa; 2) falta de reação do
PIB, com o primeiro trimestre registrando um comportamento, talvez, negativo, indicando
que o crescimento em 2019 tende a ser menor do que o 1,1% registrado em 2017 e
2018; 3) o setor de serviços registrou recuo de 1,7% no primeiro trimestre do
ano; 4) a inadimplência cresce no país, já atingindo a 62,6 milhões de
brasileiros no final de abril, a mais elevada da história nacional; 5) o
mercado e o setor financeiro já avançam que “o capital político para aprovar
reformas quase esgotou”, apesar de estarmos apenas no quinto mês do ano. E
assim por diante! Portanto, não pode ser surpresa o caos político e econômico
que vivemos neste momento. Está dentro de uma lógica que havia 50% de chances
de ocorrer, embora as apostas iniciais pouco a considerassem. É verdade que
tudo isso resulta de graves erros na condução de nossa economia no passado
recente. Mas também é verdade que as atitudes populistas, beirando a
irresponsabilidade, do governo atual, até o momento, destruíram a confiança que
existia junto aos agentes econômicos e grande parte da população, não se
vislumbrando mudanças positivas no futuro próximo. O risco é não ocorrer
reação, comprometendo as expectativas para 2020 e 2021, pois já não basta aprovar
a Reforma da Previdência. Será preciso muito mais!