Argemiro Luís Brum
02/05/2019
No momento em que o Brasil pena em sair da maior
crise de sua história recente (o período de 2011 a 2020 terá o pior crescimento
médio nos últimos 120 anos, consolidando mais uma década perdida), com o PIB do
primeiro trimestre estagnado, com o desemprego crescendo e com a inadimplência
atingindo a 63 milhões de brasileiros adultos, não podemos perder a noção de
espaço. Ou seja, não podemos ignorar o que acontece no mundo e que igualmente
nos atinge, em muitos casos potencializando nossa crise e, em outros, exigindo
ajustes que, se não forem feitos, nos marginaliza ainda mais perante as demais
economias mundiais. É neste contexto que vale destacar uma das grandes
preocupações dos especialistas internacionais na área econômica: como alimentar
10 bilhões de pessoas em 2050 (população estimada para o planeta nesta data),
ao mesmo tempo em que se melhora a saúde humana e se preserva o planeta? No
início deste ano uma equipe de 37 cientistas, representando 16 países, divulgou
o resultado de uma pesquisa sobre o assunto após três anos de estudos. (cf. Le
Monde, 18/01/2019) Sob o título “Um Regime de Saúde Planetário”, o mesmo
responde o que, de certa forma, já se vem alertando a mais tempo: somente com
uma mudança radical no modo de produção e consumo. Tal conclusão está em linha
com os defensores do “decrescimento econômico”, pelos quais ação que o mundo
terá que adotar nos anos futuros se quiser manter um mínimo de bem-estar. O
estudo aponta que 820 milhões de pessoas no mundo sofrem de subnutrição, outras
2,4 bilhões consomem acima do que precisam, fato que causa o diabetes, a
hipertensão e problemas cardiovasculares, e mais de 2 bilhões de pessoas
apresentam uma carência em micronutrientes. Destacando que, apesar dos
esforços, a produção agroalimentar é o principal fator de degradação do meio
ambiente e da transgressão dos limites planetários, o estudo aponta que, mesmo
em um contexto de crescimento demográfico, será possível se alimentar de forma
mais sadia e sustentável. Não se trata de colocar o mundo em dieta, mas sim de
equilibrar melhor o consumo mundial de calorias, sem, também, impor um regime
único alimentar. O estudo preconiza um menu básico que dê primazia aos legumes
e frutas, onde cada pessoa deveria consumir 500 gramas por dia. Se acrescenta
ao mesmo cereais completos que forneçam mais de um terço do aporte calórico,
produtos lácteos, algumas colheres de azeite vegetal, de preferência
insaturado, e muito pouco açúcar. Quanto as proteínas, a maior parte viria dos
vegetais (125 gramas por dia). A ração diária recomendada de carne vermelha é
de 14 gramas apenas, o que equivale a um bife por semana, enquanto peixe e
carne de aves poderiam somar 28 gramas diários. (segue)