Argemiro Luís Brum
09/05/2019
Terminamos a coluna anterior indicando que o
estudo sobre “como alimentar 10 bilhões de pessoas no mundo em 2050” aponta um
menu “standard” a ser adotado pela humanidade. O mesmo permitiria uma
alimentação sadia que, para se viabilizar, dobraria o consumo mundial de
frutas, legumes, nozes e leguminosas, e reduziria em mais de 50% o consumo de
carne e de açúcares. Obviamente, tal menu seria flexível, para levar em conta a
diversidade dos sistemas agrícolas, das tradições culturais e das preferências
individuais. E também os diferentes níveis de vida entre os países e as
desigualdades de acesso às fontes alimentícias. Isso implica que um
norte-americano terá que dividir por seis sua ração de carne vermelha (pode-se
imaginar quanto seria a redução para um brasileiro do sul do país, um argentino
ou uruguaio). Um respeito coletivo a tal ração alimentar reduziria em 20% a
mortalidade de adultos. Segundo o estudo, um tal regime seria compatível com a
produção alimentar que não consuma os ecossistemas para além de seus limites,
estabilizando o efeito estufa, o uso da terra ocupada pela agricultura e o
consumo de água disponível no planeta, fato que melhoraria a
biodiversidade. Ao mesmo tempo, o
consumo de adubos nitrogenados e fosfatados terá que diminuir consideravelmente.
Esta receita somente será possível instalar a partir de cinco estratégias
propostas pelo estudo, em escala global: 1) um compromisso internacional na
direção de uma transição para uma alimentação sadia; 2) uma reorientação das
prioridades agrícolas na direção de produtos de maior qualidade; 3) uma
intensificação da produção alimentícia, porém, sobre um modelo sustentável; 4)
uma governança forte e coordenada das terras e dos oceanos; 5) uma redução de,
pelo menos, metade das perdas e desperdícios, as quais atingem hoje 30% da
produção de alimentos. O estudo mostra que “uma alimentação melhor para a saúde
é melhor para o meio ambiente”. Tal proposta de “um regime planetário para a
saúde” seria equivalente, na área alimentícia, ao objetivo de menos 2ºC de
aquecimento global que os países estão buscando obter a partir do Acordo
Mundial sobre o Clima. Portanto, o mundo tem uma solução à crise alimentar e à
insustentabilidade do sistema produtivo, que ameaçam a existência humana no
futuro não muito distante. O problema é convencer as populações, os governos e
as indústrias agroalimentares a se responsabilizarem conjuntamente para com
esta mudança, a qual os pesquisadores estão chamando de “nova revolução
agrícola mundial”.