Argemiro Luís Brum
18/04/2019
A expectativa de melhoria de nossa economia em
2019, passados quase quatro meses, diminuiu sensivelmente. Além dos fatores
internos, uma recuperação da mesma depende das tendências que se apresentam no
cenário econômico mundial. Primeiro: o déficit fiscal. O mundo ainda está sob efeito da crise de
2007/08, cujas tentativas de saída da mesma provocaram um crescente déficit
fiscal nos diferentes países. Esses desequilíbrios tornam a economia mundial
mais vulnerável e aceleram o retorno do protecionismo comercial, comprometendo
o crescimento. Segundo: o clima. Se nada for feito, a mudança climática
provavelmente será um dos maiores choques econômicos do século XXI. Para um
país em desenvolvimento de baixa renda mediano, com temperatura de 25ºC, um
aumento de 1ºC reduziria seu PIB per capita em cerca de 1,5% por longos anos.
Ora, cerca de 60% das pessoas no mundo vivem em países onde esses efeitos podem
ocorrer, incluindo boa parte do Brasil. Terceiro: as desigualdades. Nota-se
que, nos últimos tempos, as mesmas recuam entre os países, porém, no interior
destes países elas têm aumentado. A concentração de renda no interior dos
países continuou crescendo nos últimos 30 anos e não há movimento em sentido
contrário. Tanto é verdade que no Brasil o 1% mais rico da população ficava com
27,8% em 2015, contra 25,1% em 2001. Na América do Norte, em 2016, 20,2% contra
10,7% em 1980; no Mundo como um todo 20,4%, contra 16,2% em 1980. A forte
desigualdade amplia a fragilidade financeira, sobretudo ao aumentar
simultaneamente a poupança dos ricos e a procura de crédito pelos pobres e pela
classe média, os quais vivem de endividamento e na inadimplência constante.
Neste sentido, as reformas estruturais não devem se limitar apenas a solucionar
a crise fiscal, mas também diminuir as desigualdades internas. Quarto: a
corrupção estatal. Esta, definida como o abuso de cargo público para ganho
pessoal, está associada à redução do crescimento e do investimento e ao aumento
da desigualdade. A corrupção enfraquece o Estado e atinge os serviços por ele
prestados. Como os pobres são os que mais dependem de tais serviços, são eles
que mais sofrem as consequências desta ação nociva. Quinto: a revolução 4.0. Os
sistemas tecnológicos e de informação dominam o mundo. Assim, o futuro do
trabalho, e as implicações para a estabilidade financeira e a política fiscal, estão
ligados à necessidade de os avanços tecnológicos serem absorvidos pelos países
de forma inclusiva. Sexto: a economia e finanças. Nesta área a crise de 2007/08
mostrou que o mundo precisa de um novo e eficiente sistema de regulação, o qual
valorize a produção e não a especulação. Passados 10 anos de seu início nada
foi construído adequadamente. Diante disso, se espera uma nova recessão mundial
entre 2020 e 2024. Estamos nós preparados?