Argemiro Luís Brum
14/03/2019
Encerrado
o período das férias de verão, o sul do Brasil constatou que os turistas
argentinos vieram em pouco número. No geral, a presença dos mesmos recuou entre
60% e 70% em relação há anos anteriores. Tal comportamento não deveria ter sido
surpresa diante da enorme crise por que passa o vizinho país. Aliás uma crise que
cresceu desde 2001/02, quando a estabilidade econômica, mantida pelo chamado
Plano Cavallo, ruiu. A reestruturação tentada pelo atual governo Macri, após as
diatribes dos governos populistas do casal Kirchner, tem um custo social
elevado e demora para dar resultados. Diante desta realidade, o peso argentino
caiu a $ 0,09 por um Real. Ou seja, é preciso pouco mais de 10 pesos para
comprar um Real. Com isso, nem mesmo a enorme diferença inflacionária (a
inflação oficial local está em 50% ao ano enquanto a do Brasil acumula 3,78%) viabilizou
a vinda dos argentinos. E o quadro não deverá melhorar tão cedo. Historicamente,
os argentinos não confiam em sua moeda, apostando sempre no dólar. Esta
dolarização enfraquece a economia local, tornando a dívida pública cada dia
mais elevada e impagável, mesmo com o governo tendo recorrido ao FMI em 2018.
Soma-se a isso a baixa competitividade da economia, pouca exposta à concorrência
internacional. Dito de outra forma, como a população, quando pode, busca
economizar em dólares, isso provoca forte desvalorização do peso, a qual causa
elevação dos preços junto à economia, alimentando uma inflação que se aproxima
da hiperinflação. Junto a ela vem a inflação inercial, com os empresários
antecipando a alta dos preços, além daqueles que buscam, no caos, aumentar suas
margens de ganho. Em tal contexto, os custos de produção disparam, a
ineficiência do Estado se cristaliza e a corrupção está cada vez mais presente
no dia a dia do país. Hoje os argentinos, como os brasileiros, verificam que
passaram longos anos na ilusão de que eram ricos. Ilusão esta muito centrada
nos subsídios do Estado. Como este quebrou, o corte da ajuda estatal tem sido
constante, fato que encontra uma sociedade endividada e sem grande poupança. Assim,
a estagnação da economia argentina é uma realidade, onde os restaurantes
esvaziam e muitas empresas e comércio fecham e desempregam. Salvo surpresas, é
bom que o setor turístico do sul brasileiro não espere grandes levas de
visitantes argentinos nos próximos anos. A não ser que nossa economia afunde
ainda mais e se iguale à realidade dos vizinhos. A ironia em tudo isso é que,
para os venezuelanos que fugiram de seu país destroçado pelo chavismo, a
realidade argentina ainda é um “mar de rosas”. Também pudera, além da ditadura,
a Venezuela enfrenta falta de todos os bens essenciais, especialmente comida e
remédios, enquanto sua inflação terminou 2018 em 1.400.000% (um milhão e
quatrocentos mil por cento).