Argemiro Luís Brum
28/02/2019
A resposta parece óbvia, porém, na prática está
longe de sê-lo. Por quê? Porque nosso país está muito atrasado na eficiência
produtiva, tanto do capital quanto do trabalho. Além disso, a burocracia e o
peso estatal travam o país há muito tempo, a partir de um clientelismo político
que favorece o atraso em todas as instâncias. Por exemplo: “...entre 140 países
do mundo, o Brasil é campeão em ônus da regulação governamental; vice-campeão
em baixa da razão importações x PIB; o terceiro pior em contratação de práticas
de defesa e mobilidade interna de mão de obra; o quarto pior na tributação do
trabalho; o sétimo pior em taxa de homicídio; o nono pior na dinâmica da
dívida... Em termos sociais a situação é ainda pior: somos um país pobre,
perdendo ano a ano o bônus demográfico, com uma das maiores concentrações de
renda do mundo (em 2016, o ganho médio de uma pessoa que integra o grupo de 1%
mais rico da população era equivalente a 36 vezes do ganho de uma pessoa que
integra o grupo da metade mais pobre do país)”. (cf. Conjuntura Econômica, FGV,
nov/18, pp.26-29) Certo, somos uma das maiores economias industriais do mundo,
porém, esta indústria vem definhando. Em 1995, o peso total da indústria de
transformação, por exemplo, na composição do PIB brasileiro era de 16,8%. Em
2017 essa participação era de apenas 11,8%, após atingir o pico de 17,8% em
2004. Não há dúvida que, para engrenarmos uma saída de tal situação, precisamos
das reformas estruturais. Porém, sabe-se que elas não serão suficientes para
dinamizar econômica e socialmente o país. É preciso tornar o Estado igualmente
mais eficiente, além de realizarmos grandes melhorias sociais, na educação,
saúde, segurança, habitação e infraestrutura. E precisamos entender que a
retomada será demorada. Isso explica porque a economia real não segue a euforia
especulativa de nossa Bolsa de Valores, e nem poderia, pois nossa realidade é
de contas públicas com déficit primário de R$ 120 bilhões no final de 2018; o
rombo previdenciário no mesmo ano foi de R$ 290,3 bilhões; somos o país com a
12ª maior carga tributária dentre mais de 40 países importantes pesquisados
pela OCDE; e o próprio governo informa que sem reformas, entramos em nova recessão
em 2020. A propósito, a reforma previdenciária proposta visa o longo prazo (o
governo espera uma economia de R$ 1,1 trilhão em 10 anos, enquanto o mercado,
diante do que foi apresentado, calcula economia entre R$ 500 a R$ 800 bilhões, sendo
que o necessário é R$ 3 trilhões a partir de sua completa implementação, em 20
anos). E junto a isso, precisamos sustentar uma recuperação da economia, e da
indústria em particular, realizando forte modernização tecnológica de nosso
sistema produtivo geral. Enfim, precisamos perseverar, sem derrapar no processo
de correção de rumo. Caso contrário continuaremos “avançando para o passado”.