Argemiro Luís Brum
20/12/2018
Muito se
tem falado dos custos da corrupção no Brasil, particularmente no setor público.
De fato, a realidade brasileira neste ponto é assustadora e ajudou a provocar
prejuízos econômicos e sociais irreversíveis aos cidadãos. Mas, imbricado a
isso é importante não esquecermos que os custos da má gestão pública, por
incompetência e/ou por radicalismos ideológicos, são maiores ainda. Em nosso
país, os mesmos, no momento mais recente, já duram mais de uma década e,
infelizmente, deverão continuar por um bom tempo, mesmo que o novo governo
escape destas armadilhas, o que está longe de ser garantido. Ciente disso é que
consideramos que 2019 será mais um ano difícil. Não há milagres diante da
realidade econômico-financeira em que o Brasil está. E não é simplesmente
mudando de governo que as coisas melhoram automaticamente. A vantagem do novo
ano é que o governo que entra está imbuído em realizar o ajuste fiscal e as
reformas estruturais. Porém, neste momento de transição já se nota que o mesmo
começa a ceder em alguns pontos (reforma da Previdência, por exemplo), o que
demonstra a dificuldade do processo. Assim, apesar de certo otimismo, natural
com a mudança de governo, é preciso muita atenção. O crescimento da economia
pode ficar patinando nestes níveis de 1% a 2% que estamos agora, o que é
insuficiente. De fato, o país tem dois caminhos: 1) o governo consegue realizar
alguns ajustes e a economia começa a engrenar, inclusive estabilizando o câmbio
em patamares mais baixos, mantendo a inflação sob controle e os juros
aceitáveis; 2) se o governo fraquejar e não conseguir avançar nos ajustes, a
decepção tomará conta, as cobranças virão, e a economia patinará de novo,
podendo mesmo piorar em relação a 2018. Neste sentido, há uma grande dúvida
quanto ao que fará o novo Congresso nacional em relação às propostas de ajustes
que deverão vir. Além disso, o novo governo terá que rever seu posicionamento em
relação ao exterior, por enquanto um elo fraco nas poucas propostas que
surgiram. A fase de transição, entre a eleição e a posse, mostra que tensões
com o mercado já surgiram. De fato, com o passar das semanas, as declarações
desencontradas, os desmentidos no interior da futura equipe de governo e
acusações de corrupção contra membros da família do presidente eleito, levaram
o mercado a desconfiar da capacidade do novo presidente em liderar um movimento
de ajustes concretos e substanciais. Por enquanto, ainda há crédito político,
mas o novo governo já se desgastou antes mesmo de assumir. Com isso, terá um
tempo mais curto de “lua de mel” com o mercado, pois este não terá paciência. E
esse é um problema, pois não há respostas fáceis e rápidas. Portanto, o período
entre janeiro e março será decisivo. (segue)