Argemiro Luís Brum
18/10/2018
Dando
continuidade ao comentário passado, o problema central é que, de 2015 para cá,
o Brasil quebrou e deve continuar assim pelos próximos anos. Seja quem for o
governo eleito o mesmo não terá dinheiro para nada. Neste contexto, vale
alertar que o governo Temer deixará um orçamento engessado e já estourado,
sendo que 92% do mesmo estará comprometido com gastos obrigatórios, quase todos
na direção de manter a máquina pública que aí está. Assim, para a frustração
geral, as coisas podem continuar piorando. Para escaparmos de um novo fracasso
econômico e evitarmos uma segunda década perdida na sequência, o governo eleito
precisará otimizar o desempenho educacional; elevar a taxa de poupança;
aumentar os investimentos produtivos; e reduzir os gastos públicos ao
necessário (reformas). Ou seja, realizar um imprescindível ajuste fiscal já no
início do novo mandato presidencial, pois para criarmos uma trajetória de
crescimento sustentável as contas públicas devem estar equilibradas. Precisamos
de um superávit primário anual de no mínimo 3% do PIB. Sem isso não haverá
equilíbrio macroeconômico. Hoje existem as condições mínimas para realizá-lo
(inflação dentro da meta; juro básico reduzido; reservas cambiais
confortáveis...), porém, a questão, mais uma vez, é se o governo eleito terá
capacidade para isso. Se não fizermos o ajuste, teremos de volta a inflação, a
disparada dos juros, o aumento do risco país, a desvalorização ainda maior do
real, a perda de credibilidade e de crédito, e uma forte instabilidade
política. E não há segredo! O ajuste passará pelo aumento de impostos (aonde?)
e pela contenção de gastos públicos (aonde?). Nesse ponto, o que irá decidir
muito é a coalizão governamental para que se aprovem as reformas (a capacidade
de o presidente eleito convencer o Congresso). Tudo isso em um ambiente onde a
PEC do Gasto Público está comprometida, pois as reformas estruturais não
aconteceram, e o choque, agora, terá que ser mais duro e imediato. Não há
espaço para um ajuste gradual. Os primeiros 100 dias do novo governo devem ser
de choques intensos se o mesmo quiser avançar na agenda. O problema é que o
Estado brasileiro está extremamente vulnerável a grupos de interesse que não
estão preocupados com o ajuste fiscal e em organizar o ambiente de negócios. O
objetivo é sempre atender suas demandas específicas às custas do restante da
sociedade. E as eleições atuais nos diferentes níveis não parecem ter alterado
tal quadro, apesar da clara e correta indignação popular contra a corrupção.
Para piorar, grande parte da sociedade brasileira não consegue fazer uma
relação entre o aumento do gasto público e o desastre econômico do período
recente. Tanto é que cada grupo procura proteger seus recursos às custas do
restante da sociedade. Não é esse, e jamais foi, o caminho para um crescimento
e desenvolvimento econômico sustentável. (segue)