Argemiro Luís Brum
11/10/2018
Como
já é sabido há meses, o andar de nossa economia depende do novo governo a ser
eleito. Ora, o resultado do primeiro turno deixa preocupações neste sentido,
pois nenhum dos dois candidatos eleitos para o segundo turno oferece confiança
quanto a possibilidade de ajustar a economia brasileira. Aliás, o debate em
torno de ideias econômicas praticamente não existiu. Na verdade, estamos diante
de uma eleição onde votamos muito mais levados pela emoção e bem menos com a
razão. O “eles contra nós” ou o “nós contra eles” prevaleceu. Diante disso, o
país claramente cristalizou uma divisão de forças e interesses onde é concreta
a possibilidade de o governo eleito não conseguir fazer o que é necessário
economicamente. Sem falar que o Congresso Nacional eleito ficou extremamente
fragmentado, tornando a tarefa presidencial ainda mais difícil. E, para piorar
o quadro, os dois candidatos que sobraram possuem um claro viés populista, com
forte dose de demagogia, o que jamais foi bom conselheiro. A seguir, e nas
próximas duas colunas, procuraremos fundamentar esta nossa preocupação. Um
breve resumo dos últimos 11 anos nos mostra claramente o imenso desafio que o
novo governo terá pela frente. A partir
de 2007 (Lula II) se tentou colocar em prática um contrato social que tinha
como base a construção no Brasil de um Estado de Bem-Estar social de padrão
europeu. Uma ideia boa, porém, de execução desastrosa, gerando uma profunda
crise fiscal. Tanto é verdade que entre 1992 e 2014 o gasto público superou a
expansão do PIB, saindo de 11% para quase 20%, sendo que nos últimos anos o
mesmo foi na direção basicamente de manter uma máquina pública inchada e
ineficiente. O cenário se agravou sobremaneira a partir de 2012 quando o
crescimento na arrecadação de impostos e contribuições ficou igual à expansão
do PIB. A partir daí começamos a gerar o buraco fiscal que não para de crescer.
Assim, entre 2008 e 2014 o país saiu de um superávit primário de 3,5% do PIB
para um déficit de 1,5% do PIB. Uma enorme piora fiscal de cinco pontos
percentuais. Uma situação agravada pela aplicação de uma agenda de governo
intervencionista ou nacional-desenvolvimentista (forte presença do Estado na
economia com gastos públicos ilimitados). Há consciência de que isso tudo deve ser
corrigido, porém, isto tende a não mudar nos próximos quatro anos, salvo se o
candidato eleito conseguir superar o racha político/ideológico oriundo destas
eleições e colocar em prática uma equipe econômica responsável com as reformas.
O problema será, como sempre, convencer o Congresso Nacional e a sociedade de
que isso é imprescindível. Assim, é grande o risco de repetirmos a receita
fracassada, qualquer que seja o governo eleito, salvo surpresas. (segue)