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sexta-feira, 5 de outubro de 2018

MUITO ALÉM DE UM LITÍGIO COMERCIAL


Argemiro Luís Brum
04/10/2018

A partir de março passado o mundo assiste a um confronto entre EUA e China. Na ponta do iceberg aparece a disputa comercial entre os dois países, com os EUA avançando tarifas alfandegárias sobre um grande número de produtos chineses, e a China, em represália, realizando o mesmo sobre produtos estadunidenses, inclusive a soja. Nos últimos dias de setembro tal conflito recrudesceu quando os EUA passaram a taxar em 10% mais US$ 200 bilhões de produtos chineses, indicando que tal tarifa passará a 25% a contar de 1º de janeiro próximo. Um litígio desta envergadura atinge ao mundo inteiro. Entretanto, isto não preocupa os EUA, pois seu objetivo vai muito além. Trata-se de uma estratégia para impedir a ascensão da China como potência global, freando o seu atual desenvolvimento. Pode ser o início de uma longa luta pelo domínio global. O objetivo central dos EUA é frear a investida chinesa de colocar em prática o seu programa de metas “Made in China 2025”. Um projeto lançado em 2015 que traça diretrizes para colocar a China entre os líderes industriais em 10 setores considerados estratégicos para a dominância econômica e geopolítica nas próximas décadas, sendo que 70% do conteúdo dos bens produzidos nos segmentos escolhidos devem ser fabricados dentro do país. Um fator, pela dimensão da economia chinesa, que causaria desestabilização global. Ora, o conflito entre as duas maiores economias do mundo se constitui em um ataque direto ao sistema multilateral. Se antes a disputa comercial se concentrava no câmbio, agora envolve um questionamento da validade de todo o sistema multilateral de comércio, uma descrença nas organizações internacionais, particularmente a OMC, mas também OCDE e o G20. Mas há igualmente a questão militar: a China está se armando, e estaria desenvolvendo ativamente bombardeiros de longo alcance e provavelmente treinando pilotos para missões direcionadas aos EUA. Ou seja, esta realidade EUA x China é um dos temas mais importantes em termos de geopolítica nesta segunda década do século XXI. Se, por um lado, a ação dos EUA vai além de uma simples resposta às pressões protecionistas das indústrias estadunidenses, incomodadas com a competição chinesa, se constituindo em uma “tentativa de resistência” ao avanço da China em seu processo de internacionalização, por outro lado, o que está em jogo é como organizar “uma nova ordem comercial”, com a presença de um novo ator com poder econômico e militar e que não adere totalmente aos princípios que as grandes economias ocidentais e mais o Japão entendem como a ordem liberal a ser preservada (cf. Conjuntura Econômica, FGV, maio/18, p.48-49). O balanço final deste conflito não será positivo para o mundo. No Brasil, às vésperas das eleições presidenciais, infelizmente nossos candidatos parecem também desconhecer este tema.
  

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