Argemiro
Luís Brum
20/09/2018
Algumas semanas atrás,
explicitei a realidade do mercado da soja e o seu bom momento em termos de
preços (esta última safra, em boa parte, foi comercializada em um ambiente
positivo, com seu valor, a partir da terceira semana de março, oscilando entre
R$ 70,00 e R$ 80,00). No final do comentário informei que tal realidade poderá
mudar para a próxima safra. Sobre que bases está sustentada tal afirmação,
neste momento em que os preços médios nominais da oleaginosa, no balcão gaúcho,
atingem a R$ 80,24, valor expressivo somente encontrado em alguns momentos de
junho de 2016, quando chegou a bater em R$ 83,78? Em primeiro lugar porque as
cotações em Chicago, desde março passado, quando se iniciou o conflito
comercial entre EUA e China, despencaram. Em meados de setembro/18 o bushel
gira ao redor de US$ 8,20 (o mais baixo preço em pouco mais de 10 anos naquela
Bolsa). Ajuda muito para este comportamento o fato de a nova colheita nos EUA,
que se inicia, estar projetada em 127,7 milhões de toneladas, após 119,5
milhões no ano anterior. Ao mesmo tempo, os estoques finais estadunidenses,
para 2018/19, deverão atingir a 23 milhões de toneladas, contra 10,7 milhões um
ano antes, segundo o USDA. E no atual quadro fundamental do mercado não há
sinais de que tal tendência possa ser revertida nos próximos meses. O próprio
USDA aponta uma média de preços aos produtores estadunidenses ao redor de US$
8,60/bushel, contra US$ 9,35 em 2017/18 e US$ 9,47 em 2016/17. Em segundo
lugar, o câmbio no Brasil, hoje flertando com seu maior valor nominal desde
julho de 1994 (R$ 4,20 por dólar), um dos pilares de sustentação dos preços
internos atuais da soja, deverá recuar passada as eleições presidenciais de
outubro e, especialmente, a partir de janeiro caso não tenhamos aventuras
econômicas com o novo governo. O próprio mercado espera fechar 2018 com um
câmbio ao redor de R$ 3,70. Enfim, o prêmio no porto de Rio Grande, também
elemento de sustentação de nossos preços atuais, hoje girando entre US$ 2,00 e
US$ 2,25/bushel, com aumento de 108% em relação à média de um ano atrás, mesmo
em o litígio sino-americano continuando, tende a recuar pela pressão da nova
safra brasileira, projetada em 120 milhões de toneladas, para o início de 2019,
em caso de clima normal. Neste contexto, o preço da soja no balcão gaúcho, no
momento da colheita, tende a ficar entre R$ 65,00 e R$ 70,00/saco, com um
agravante: a nova safra terá custos médios bem mais elevados (a safra anterior
foi feita com um dólar médio de R$ 3,16, enquanto a atual está sendo feita, no
geral, a um dólar entre R$ 3,80 e R$ 4,10). Neste quadro, chama a atenção o
fato de que no RS, segundo Safras & Mercado, até o dia 06/09 apenas 11% da
safra futura havia sido negociada, contra 16% na média histórica (no Brasil,
23% contra 26% na média).