Argemiro
Luís Brum
27/09/2018
Na semana passada, pela quarta reunião
consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom), manteve a taxa Selic anual
em 6,5%, a mais baixa de sua história. O Sistema
Especial de Liquidação e Custódia – Selic foi criado
em 1979, pelo Banco Central e pela Andima
(Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto). Em 1996, o Banco Central instituiu um sistema de bandas de
juros, extinguindo-o em 4 de março de 1999, passando a usar apenas uma taxa
para sinalizar os juros de toda a economia. Surge, então, a chamada taxa
referencial Selic. Na
prática, a taxa serve de balizador para o estabelecimento de juros no mercado
nacional. O Banco Central, tendo como mandato o controle da inflação, usa a
mesma como um instrumento para tal controle. Outros bancos centrais, além do
controle da inflação, possuem como mandato igualmente usar a taxa básica de
juros para promover o crescimento econômico. O fato é que a inflação brasileira
sofre, pelo menos, pressões de três frentes: da demanda interna; dos preços
administrados; e dos juros básicos dos EUA. Tratando-se deste último caso, porque
não possuímos, historicamente, poupança própria suficiente para tocar a
economia, necessitamos de recursos externos. Parte destes recursos vem de
capitais especulativos, em busca de nosso juro, desde que ele seja mais elevado
(considerando ainda o risco país) do que o juro no seu país de origem. Ora,
neste momento, o juro básico nos EUA está novamente se elevando, após 10 anos
estagnado em quase zero por cento ao ano, em função da histórica crise de
2007/08. O mesmo pode chegar ao final de 2018 em torno de 2,5%. A elevação dos
juros estadunidenses, ao mesmo tempo em que a nossa Selic fica estagnada, tende
a provocar uma saída de dólares do Brasil, desvalorizando o Real, fato que
causa pressão inflacionária interna devido à elevação dos preços dos produtos
que importamos, os quais estão em toda nossa economia. O aumento quase
constante dos combustíveis (um dos preços administrados) no país entra nesta
lógica. Neste contexto, parece ser questão de tempo para a Selic voltar a subir
no Brasil. Só não aconteceu até agora porque a inflação nacional, medida pelo
IPCA, apesar de ter passado de 2,53% ao ano, em setembro/17, para 4,19% em
agosto/18 (aumento de 65% em um ano), ainda está dentro da meta oficial (entre
3% e 6%). Mas não haverá como evitar um aumento da Selic, devendo a mesma
chegar ao final de 2019 ao redor de 8% ao ano. O problema é que isso ocorrerá
em um momento em que a economia brasileira não reage, após uma das piores
recessões de sua história. E aumento de juros inibe ainda mais o crescimento econômico.
O futuro governo terá um enorme desafio nesta área. Este á apenas um dos motivos
que não nos permite aventuras populistas nas eleições, de qualquer lado que
seja.