Argemiro Luís Brum
02/08/2018
No início de março
passado a cotação do bushel de soja em Chicago atingia a US$ 10,66 (primeiro
mês cotado). É neste momento que o governo dos EUA anuncia o início do litígio
comercial com a China, principal importador mundial da oleaginosa. Tal litígio acaba
se cristalizando em julho com a aplicação mútua de tarifas alfandegárias, com
reflexos no mundo inteiro! Imediatamente, em Chicago, o mercado da soja sofre
um baque, e o bushel começa a ter seu preço em franco recuo. O mesmo se acentua
a partir de junho. A tal ponto que em meados de julho o bushel da oleaginosa
atinge a US$ 8,14, seu mais baixo preço nos últimos 10 anos! Portanto, entre o
início de março e meados de julho o bushel perde 23,6% de seu valor. Além dos
aspectos fundamentais, ligados a uma diminuição das vendas para a China devido
à taxação da soja, a futura safra estadunidense se desenhava positiva, com
aumento de área semeada, e os Fundos passaram a vender fortemente suas posições
diante do litígio comercial sino-estadunidense. Apesar disso, os preços da soja
no Brasil não recuaram. Ao contrário, subiram no período considerado. O que
ocorreu? Dois movimentos paralelos acabaram eliminando o efeito negativo de
Chicago. O primeiro está ligado ao forte aumento dos prêmios nos portos
brasileiros. Em Rio Grande, por exemplo, os mesmos passam de uma média de US$
0,66/bushel, em meados de julho de 2017, para US$ 2,08/bushel em julho do
corrente ano. Um aumento de 215% no período. Por quê? Porque a demanda sobre a
soja brasileira aumenta diante das dificuldades chinesas em comprar a soja dos
EUA, a partir do litígio comercial, e também na aquisição de soja argentina
devido a severa seca que o país vizinho viveu neste último verão. O segundo
elemento compensador para os preços da soja brasileira veio do câmbio. Diante
da proximidade das eleições presidenciais e sua grande indefinição, somada à
paralisação das medidas de ajustes na economia pelo atual governo, além da
greve dos caminhoneiros e do aumento do juro básico nos EUA, o Real se
depreciou significativamente. Nossa moeda saiu de R$ 3,24 por dólar, na média
dos primeiros sete dias úteis de março, para R$ 3,91 na primeira semana de
julho. Uma depreciação de 20,7% no período. Com isso, o preço da soja no balcão
gaúcho, por exemplo, que fechou a primeira semana de março na média de R$
69,25/saco, acabou subindo para R$ 73,69 na primeira semana de julho, tendo
mesmo atingido seu máximo no início de maio, com R$ 77,42/saco. Para
comparação, no início de maio de 2017 o balcão gaúcho pagava R$ 58,35/saco e no
início de julho do mesmo ano R$ 61,38. Ou seja, apesar da enorme queda das
cotações em Chicago, a soja gaúcha se valorizou, em média, R$ 19,07 e R$ 12,31/saco
nas comparações anuais de maio e julho respectivamente. Mas atenção: o quadro
pode mudar para 2019! Assunto para um próximo comentário.