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quinta-feira, 23 de agosto de 2018

OS JUROS QUE NOS CONSOMEM (I)


Argemiro Luís Brum
23/08/2018

Segundo o IBC-Br (índice provisório sobre o nosso crescimento econômico, calculado pelo Banco Central), a economia brasileira registrou um crescimento de apenas 0,89% no primeiro semestre de 2018. E isto que o mês de junho recuperou o recuo registrado em maio devido à greve dos caminhoneiros. No Rio Grande do Sul, o PIB provisório recuou 1,4% no primeiro semestre, sem ajuste sazonal. Ou seja, o quadro econômico gaúcho se apresentou pior do que no conjunto do país. Diante do exposto, vai se confirmando o que alertamos no início do ano: 2018 está sendo bem mais difícil do que 2017 e, por enquanto, a tímida recuperação da economia nacional, após a forte recessão entre meados de 2014 e o final de 2016, consolida-se como um “voo de galinha”. O que fazer para que retomemos o caminho de um crescimento mais robusto (pelo menos 4% ao ano) e sustentável? Dentre os diferentes pontos da resposta, há dois que são fundamentais e estão na estrutura de nossa organização econômica. Ajustar as contas públicas para 1) que o Estado volte a investir adequada e suficientemente no país; 2) que a iniciativa privada volte a ter segurança para que ela própria aumente seus investimentos produtivos. Estes dois pontos, e particularmente o segundo, requerem que nossa economia se ajuste de maneira a diminuir consideravelmente o privilégio à especulação financeira em geral. Senão vejamos: as 306 empresas cotadas em nossa Bolsa de Valores registraram um lucro de 22% no segundo trimestre do corrente ano, somando um valor de R$ 26,55 bilhões (cf. Economática). Se adicionarmos a elas a Petrobras e a Eletrobras, a lucratividade do segundo trimestre aumentou em 76,3% para um conjunto de 308 empresas. Ora, na economia real brasileira, onde tais empresas são expoentes, embora não estejam sozinhas, a geração de riqueza foi negativa em 0,99% no segundo trimestre deste ano segundo o Banco Central. A principal explicação para tal defasagem está na especulação bursátil em torno das ações das referidas empresas, a qual não leva em conta suficientemente a contribuição produtiva e na geração de empregos que as mesmas oferecem na economia real. Além disso, destas 308 empresas cotadas na Bolsa, o maior lucro se deu no setor bancário. No total, 20 instituições financeiras lucraram R$ 17,6 bilhões no segundo trimestre de 2018, com um salto de 15,5% sobre o mesmo período de 2017 (aliás, em pleno período da maior recessão brasileira em um século – meados de 2014 a fins de 2016 – os quatro maiores bancos do país – Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander – lucraram, em média, R$ 14,36 bilhões por trimestre). E aqui entra o segundo ponto fundamental, além dos investimentos, para alavancar uma decolagem adequada da economia brasileira: a necessidade de baixarmos significativamente os juros reais. (segue)


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