Argemiro Luís Brum
30/08/2018
No comentário passado destacamos que um dos
problemas que inibe o crescimento econômico brasileiro, além da falta de
investimentos, se encontra nos altos juros praticados no país. Neste contexto,
se por um lado o governo reduziu fortemente a taxa básica Selic, passando a
mesma de 14,25% para 6,5% entre o final de 2016 e o início de 2018, na prática
os bancos comerciais, incluindo os públicos, pouco fizeram neste sentido.
Enquanto a Selic recuou 55% no período, os juros reais na economia recuaram, em
média, pouco mais de 16%. Ora, juros exorbitantes como os praticados no país, a
maioria deles acima de 100% ao ano (cheque especial e rotativo do cartão de
crédito na casa dos 300% anuais), enquanto a inflação oficial anual se encontra
em 4,4% ao ano, freiam completamente os investimentos e o consumo em geral,
deixando as empresas e a população com altíssimo índice de endividamento e, por
consequência, inadimplência, conforme as recentes estatísticas brasileiras nos
mostram. Como estancar este “rentismo” exagerado, em favor da produção e da
geração de empregos? Um dos pontos fundamentais está na necessária correção das
contas públicas, pois é o Estado o ente que mais demanda dinheiro no mercado,
forçando a alta dos juros. Senão, vejamos: se é verdade que o Estado brasileiro
não cabe no seu orçamento, igualmente os juros praticados no país não cabem no
orçamento. É bom lembrar que juros altos fazem a dívida pública crescer (somente em 2015 a
dívida pública, boa parte dela balizada na Selic, cresceu 21,7%, totalizando
mais de R$ 2,8 trilhões, sendo que R$ 367,7 bilhões foram apenas com pagamento
de juros da mesma). Em junho de 2018, a dívida pública federal brasileira já
atingia a R$ 3,75 trilhões (aumentando 34% em dois anos e meio). Isso ocorre
porque o governo, ao continuar gastando mais do que arrecada, se vê obrigado a
emitir títulos de dívida pública para captar recursos no mercado e financiar
suas atividades e, nos últimos anos, basicamente sustentar o inchaço da máquina
oficial. Os investidores compram esses títulos e, em troca, recebem no futuro o
valor emprestado mais os juros. Portanto, o descontrole do próprio governo (União,
Estados e Municípios) alimenta o mercado financeiro e o aumento dos juros. Assim,
juros elevados acabam levando para o sistema especulativo recursos que seriam
destinados à produção no país, deixando de gerar empregos e, até mesmo,
aumentando o desemprego, como já destacado neste espaço. Desta forma, a desestruturação
gerencial e financeira do Estado, através de governos inaptos ou interesseiros,
favorece o “rentismo” em geral e o bancário em particular. Isto não é choque
de capitalismo e sim sacrificar a produção e o crescimento nacional em favor da
concentração de renda improdutiva. O que estão propondo, a este respeito, os
atuais candidatos à presidência da República?