Argemiro Luís Brum
09/08/2018
Apoiados
em uma Constituição, toda remendada, que oferece muitos privilégios e poucos
deveres, uma minoria de brasileiros, encastelados em postos estatais em geral,
desde o Executivo até às empresas públicas, desde a União até os menores
municípios, usa o poder em seu favor, via decisões administrativas e econômicas
que penalizam todos os demais milhões de cidadãos deste país. Os poucos
encaminhamentos no sentido de corrigir a situação, no caso da União o Teto do
Gasto Público e as Reformas Estruturais, ou não acontecem, ou são inibidos por
leis anacrônicas. Assim, para tentar cumprir a chamada meta fiscal, o governo,
ao invés de cortar em sua estrutura de pessoal e salarial, historicamente
inchada e ineficiente, se vê impedido (e pouco interessado) em agir, sobrando a
possibilidade de cortes em esferas que comprometem o futuro do país (como,
aliás, já vem ocorrendo nas últimas décadas), a saber: educação; saúde e
infraestrutura. A redução drástica de investimentos nestas áreas (e em outras
tantas) a cada dia afunda o país no subdesenvolvimento, estimulando a
população, e particularmente nossos jovens, a deixarem definitivamente o país.
Esta fuga de cérebros, pois geralmente são os melhor formados que nos deixam, é
um desastre. Neste início de agosto mais uma pedra nesta incompetência
gerencial nacional veio compor a construção deste desastre. O anúncio de que
440.000 bolsas de estudos, em todas as áreas, podem ser cortadas em 2019 por
falta de verbas públicas. Aliás, a verba anual da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) já recuou de R$ 5,08
bilhões em 2014 para R$ 3,98 bilhões em 2018. Se isso vier a ocorrer, o
prejuízo para a pesquisa, a ciência, a inovação tecnológica e o desenvolvimento
nacional será de, no mínimo, 30 anos. Teremos mais uma geração de brasileiros
perdida de forma irreversível, além de o próprio país atrasar por mais algumas décadas.
Isso, se já não bastasse termos 7,2% de brasileiros analfabetos na faixa de 15
anos ou mais e 51% da população de 25 anos ou mais com apenas o Ensino
Fundamental completo (grande parcela, analfabeta funcional). Na área da saúde,
nos faltam hospitais equipados, remédios, aparelhos para tratamentos
especializados, médicos e políticas adequadas de prevenção (não basta destinar
volumes de recursos, muitos dos quais sequer saindo do papel, se não soubermos
utilizá-los corretamente). Na previdência social, os déficits se acumulam e o
país está a ponto de não poder mais sustentá-la sem comprometer as demais áreas
sociais, já havendo data para que nem mesmo possa mantê-la. Estudos da CNI e da
OCDE mostram que se uma adequada reforma previdenciária fosse, hoje, realizada
no Brasil, economizaríamos R$ 1 trilhão até 2028. Com esse montante, poderíamos
construir 221.600 escolas ou 40.700 hospitais, além de equipá-los e pagando
melhor seus profissionais. (segue)