Argemiro Luís Brum
16/08/2018
Na
coluna passada elenquei três áreas fundamentais para o desenvolvimento
brasileiro e que estão sendo sucateadas em favor de interesses de uma minoria
privilegiada, encastelada nos diferentes poderes nacionais. Após destacarmos
alguns aspectos que atingem as áreas da educação e da saúde, cabe agora, ao
encerrarmos nosso raciocínio, apontar para a infraestrutura. Pois entre 1999 e
2018 (estimado), o mundo cresceu a uma taxa média de 3,8% anuais, com uma taxa
média de investimentos de 24,5% do PIB (o considerado adequado é 25%); a
economia da América Latina e do Caribe cresce a 2,5% anuais, com taxa de
investimento de 20,7%; enquanto o Brasil cresceu 2,4% no período, com
investimento de 18,7% (desde 2015 esta taxa não passa de 16% do PIB) (cf. ZH
01/08/2018, p.17). Ora, sem investimentos adequados em infraestrutura, assim
como em educação e saúde, não há país que saia “do buraco”. E torna-se uma
falácia esperar que a economia cresça o suficiente e de forma sustentável a
partir do consumo das famílias, quando estas não têm acesso adequado a tais
áreas, gastando a maior parte de sua pouca renda apenas para sobreviver ao mau
funcionamento das mesmas, num contexto que lhes leva a um endividamento e
inadimplência enormes (mais de 25% das famílias brasileiras estão, hoje,
inadimplentes). Paralelamente, diante de tal realidade, salvo honrosas e
insuficientes exceções, nada se faz para mudar o quadro, pressionados que
estamos por interesses de grupos privilegiados que ganham com a crise nacional
(nossos 594 congressistas aprovaram um Fundo Partidário de R$ 1,7 bilhão para a
campanha eleitoral de 2018, valor que corresponde a 43% do montante destinado à
Capes, que sustenta 440.000 bolsistas brasileiros fazendo ciência; já a diária
de 747 euros a que têm direito os membros do Judiciário no Rio Grande do Sul,
para viagens à Europa, é superior ao salário mínimo mensal em Portugal e duas
diárias ultrapassam o salário mínimo da Alemanha, e assim por diante - cf. ZH, 03/08/2018 e ZH, 13/06/18, p.8). Tal
descalabro nacional pode assistir a alguma mudança positiva a partir das
eleições de outubro, porém, não haverá milagres. Para que a retomada econômica
de fato aconteça e o Estado encontre meios para melhorar sua atuação social, e
o Brasil realmente avance, será preciso que a iniciativa privada, interna e
externa, encontre, diante de si, um cenário que lhe propicie confiança em
investir. E que um bom governo (Executivo, Legislativo, Judiciário) crie os
mecanismos de regulação adequados para acompanhar o movimento, eliminando os privilégios
e, aos poucos, tire o Estado do “atoleiro” em que foi posto. Resta esperar que,
apesar de tudo, a sociedade brasileira esteja preparada e deseje realmente ir
por este caminho!