Argemiro Luís Brum
26/07/2018
Encerramos
nossa coluna passada perguntando por que o protecionismo comercial acontece. A
resposta: para proteger segmentos específicos não competitivos, fazendo o conjunto
da Nação pagar a conta, em benefício de alguns poucos, sem falar no prejuízo
global. No caso do litígio entre EUA e China, em um primeiro momento os EUA
colocaram tarifas aduaneiras sobre US$ 34 bilhões de produtos importados da
China. O país asiático colocou represálias na mesma proporção de valor. Na
sequência, os EUA cogitam novas tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos
chineses. Este litígio entre as duas maiores economias do mundo espalha um
rastro de protecionismo mundo afora. Um prejuízo enorme! Segundo estudos da
Organização Mundial do Comércio (OMC), atualmente presidida pelo brasileiro
Roberto Azevêdo, se as tarifas protecionistas retornassem ao nível anterior ao
estabelecimento do sistema comercial multilateral (o mesmo foi instalado em
janeiro de 1947 através do GATT, posteriormente substituído em janeiro de 1995
pela OMC), o comércio global recuaria 60% e a economia mundial diminuiria 2,4%.
Podemos imaginar, somente pensando no Brasil, o que significaria para a nossa
economia e nossos empregos se sofrêssemos um impacto desta envergadura em nosso
comércio exterior. Não é preciso ir longe! Peguemos apenas o exemplo da soja: o
atual litígio comercial entre EUA e China derrubou as cotações da soja na Bolsa
de Chicago, entre 1º/06 e 15/07 (45 dias), em 20,3%. Em um cálculo simplista,
considerando o que o Brasil ainda tinha de soja para vender em meados de julho,
apenas da última safra (22%), deixamos de arrecadar R$ 4,12 bilhões devido ao
conflito. No Rio Grande do Sul a perda é de R$ 940 milhões, pois ainda teríamos
6 milhões de toneladas a negociar. Dito de outra maneira, nossos produtores
rurais, que hoje conseguem obter um preço médio de balcão ao redor de R$
76,00/saco pela soja, poderiam, se Chicago ficasse nos valores de 1º de junho
passado (US$ 10,21/bushel no fechamento do primeiro mês), e mantendo-se o atual
câmbio e o prêmio médio no porto de Rio Grande para esta época do ano (sem
influência da guerra comercial existente), receber hoje o valor de R$
86,00/saco. Ou seja, 10 reais a mais por saco de soja. Neste contexto, dá para
imaginar o prejuízo total para nossa economia, em termos de renda, PIB,
inflação e geração de empregos, oriundo do atual conflito comercial entre
estadunidenses e chineses. E se fôssemos quantificar o impacto sobre a renda
mundial? Portanto, a prática econômica nos ensina: fechar comércio é sempre
prejudicial, salvo em casos de absoluta exceção (segurança nacional, por
exemplo), e nunca por muito tempo.