Argemiro Luís Brum
12/07/2018
O Bank of America Merril Lynch, em recente relatório, indica que o câmbio no Brasil pode atingir a R$ 5,50 por dólar, em 2019, caso as eleições presidenciais resultem na escolha de um candidato populista que aposte na intervenção estatal na economia, sem se importar com a evolução dos gastos públicos. Tal indicação não é impossível, porém, muito pouco provável. Não é impossível porque, de fato, um cenário eleitoral igual ao acima temido tenderia a colocar na presidência do Banco Central brasileiro uma pessoa pouco comprometida com os ajustes estruturais necessários na economia. Além disso, no final de 2002 (primeira eleição do presidente Lula) o câmbio no país já bateu em R$ 3,95. Considerando o cálculo de paridade de poder de compra, para manter o valor daquela época, o câmbio no Brasil deveria estar hoje ao redor de R$ 7,20 por dólar. Ou seja, tecnicamente existe espaço para uma disparada cambial ainda maior, caso haja motivos para tanto. Todavia, é pouco provável que isso ocorra, pelos seguintes motivos: o Brasil, hoje, possui US$ 382 bilhões de reservas cambiais, as quais existem justamente para proteger a moeda nacional de semelhantes ataques, sendo suficiente para um bom enfrentamento com o mercado se necessário; seria preciso uma presidência do Banco Central muito irresponsável e/ou incompetente para deixar o câmbio se depreciar ao nível de R$ 5,50, sabendo-se que a inflação subiria fortemente, ultrapassando o centro da meta para 2019 (4,25%) e mesmo rompendo o seu teto (5,75%), pois os produtos importados encareceriam ao ritmo do câmbio; a dívida pública brasileira cresceria substancialmente, pois parte da mesma está indexada ao câmbio; para conter a pressão inflacionária o governo teria que elevar a Selic para além dos 8% esperados ao final de 2019, ação que inibiria o crescimento da economia; e considerando-se a disparada cambial de 2002 um fato isolado, nota-se que desde 1995, quando o Plano Real estabilizou a economia, para se manter o valor cambial daquela época, a moeda nacional deveria estar ao redor de R$ 3,60. Dito isso: a) se não desejarmos que a economia perca definitivamente o pouco de rumo que ainda possui, o Banco Central brasileiro, neste restante de 2018, terá que continuar atuante no mercado cambial, visando trazer a taxa para, ao menos, R$ 3,70 em dezembro, independente de interesses eleitorais; b) se os brasileiros elegerem um desenvolvimentista irresponsável, existirá pressão, sim, sobre o câmbio, com o mesmo podendo facilmente romper o teto atual de R$ 4,00 por dólar já no final do corrente ano. Neste caso, chegar ou não aos R$ 5,50 (ou além disso) dependerá de como agirá a nova direção do Banco Central. Esta realidade, entre tantas outras difíceis que nos aguardam, explica o porquê de nossas preocupações quanto a linha econômica a ser escolhida pelos brasileiros nas urnas em outubro próximo.