Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
28/06/2018
Dando
sequência a análise da coluna anterior, por que razão a Arábia Saudita tem
interesse em elevar os preços do petróleo? Porque o sucesso da futura
introdução em Bolsa das ações da Companhia Nacional Saudita Aramco, empresa
estatal de petróleo, depende do preço do produto. Quanto mais caro o petróleo
mais elevado o preço das ações e, assim, o governo saudita poderá financiar as
reformas que estão em curso no país, e a guerra no Iêmen vizinho. Nesse
contexto, a Arábia Saudita deseja prolongar o acordo de Viena, realizado em
novembro de 2016, entre os membros da OPEP e a Rússia, visando reduzir a
produção a fim de elevar os preços do petróleo, na medida em que diminui a
oferta no mercado mundial. Por enquanto, o objetivo saudita foi alcançado,
porém, o equilíbrio da estratégia é precário. Afinal, a Arábia Saudita se
tornou refém do acordo, pois se sair do mesmo desestabiliza novamente o
mercado. Para evitar uma redução forte e rápida do preço do petróleo mundial a
Arábia anuncia que deseja prolongar sua aliança com a Rússia por mais 10 ou 20
anos. Mas por que a OPEP se encontra em tal situação? Porque, em 2014, diante
da possibilidade concreta de os EUA se tornarem autossuficientes em petróleo e
gás (e mesmo exportadores), graças ao xisto, os sauditas adotaram a estratégia
inversa: inundar o mercado mundial de petróleo visando forte redução de seu
preço, com o objetivo de inviabilizar a concorrência estadunidense do petróleo
de xisto. Ora, a estratégia saudita fracassou: as empresas estadunidenses de
xisto sobreviveram, e a Arábia Saudita e seus aliados foram obrigados, diante
da menor receita obtida, a realizar cortes importantes em suas produções
visando a recuperação dos preços. O problema é que o acordo entre Arábia
Saudita e Rússia levou a um aumento nos preços do petróleo, porém, igualmente
favoreceu a seus principais concorrentes, especialmente os produtores
estadunidenses de petróleo de xisto. Pela primeira vez, desde 2015, as empresas
do setor são rentáveis e podem autofinanciar seus projetos. Aliás, nos EUA a
chamada Bacia Permien, situada entre o Texas e o Novo México, poderá se tornar
o maior campo petrolífero do mundo até 2023. Se esta Bacia fosse membra da OPEP
seria o quarto país exportador do cartel. Então, por que Trump briga com a
OPEP? Pelo fato de que, se a alta dos preços do petróleo mundial favorece as
indústrias petrolíferas locais, ela é extremamente nociva para as famílias
norte-americanas, pois aumenta o custo de vida. No curto prazo, para acalmar os
EUA e visando uma estratégia maior, a Arábia e a Rússia acabam de convencer a OPEP
a aumentar a produção de petróleo em um milhão de barris diários. Mesmo assim,
o preço do barril se mantém em elevados US$ 75,00. É neste contexto geopolítico
que as gestões da Petrobras se inserem, com os impactos que isso representa
para a sociedade brasileira.