Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
21/06/2018
A greve
dos caminhoneiros no Brasil teve no preço do diesel um de seus motivos. Este
preço, assim como o da gasolina, passou a ser ajustado conforme a oscilação dos
preços internacionais do petróleo. O objetivo da Petrobras, ao fazer isso, é
recuperar a estatal após o enorme prejuízo que a mesma registrou ao ser usada
para subsidiar os combustíveis nos governos Lula e Dilma (sem falar nos rombos
causados pela corrupção ali constatada). Em função disso a estatal pouco
investiu em sua modernização e reestruturação competitiva, acabando por
constatar que exportar o petróleo bruto e importar combustíveis saía mais
barato. Hoje, o Brasil importa ao redor de 25% do diesel que consome. Mas as
elevações constantes dos preços do petróleo no mercado mundial deixaram, nestes
últimos meses, a Petrobrás refém de sua estratégia, se vendo obrigada a
aumentar constantemente o preço interno dos combustíveis, pressionando o setor
produtivo e a inflação em geral. Ao mesmo tempo, temos de abrir concessões e
privatizar setores da exploração do pré-sal, pois a estatal brasileira não tem
recursos e tecnologia suficientes, no estado em que foi deixada, para fazê-lo
sozinha de forma competitiva. Ocorre que a estratégia adotada deixa o Brasil à
mercê, de forma mais aguda, da geopolítica mundial do petróleo, a qual se
“movimenta” de forma intensa nos últimos anos. Segue aqui (e na próxima coluna)
uma breve síntese desta realidade. Entre abril e maio do corrente ano os EUA
passaram a reclamar da forte alta dos preços do petróleo, acusando a OPEP de
estar fazendo um jogo perigoso. Ao mesmo tempo, a Rússia e a Arábia Saudita
comemoram o aumento, pois o mesmo representa o sucesso da estratégia conjunta
de reduzir a produção do “ouro negro” para que tal fato ocorresse. A anulação,
pelos EUA, do acordo nuclear com o Irã, só fez potencializar o aumento dos
preços mundiais do petróleo, já que o Irã é um dos grandes produtores e
exportadores da commodity, mesmo que Irã e Arábia Saudita sejam inimigos. O
confronto atual com o Irã, na verdade, se deve ao fato de que os EUA
eliminaram, na primeira metade dos anos 2000, o seu aliado no Iraque, Saddam
Hussein. Este, de religião sunita, foi posto no poder naquele país, justamente
pelos EUA, para servir de barragem ao governo iraniano, de religião xiita. A
queda de Saddam levou o Iraque a cair sob o domínio xiita e deu margem ao
surgimento do Estado Islâmico atual. Como
o Irã exporta cerca de 2,1 milhões de barris diários de petróleo, um boicote
dos EUA a sua economia tende a reduzir suas exportações, elevando os preços do
produto, diante de uma demanda mundial que aumenta pela recuperação da economia
pós-crise 2007/08. Por sua vez, a Arábia Saudita, contrária ao programa nuclear
iraniano e aliada dos EUA, agora deseja elevar os preços do petróleo para
níveis entre US$ 80 e US$ 100/barril. Por quê? (segue)