Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
14/06/2018
Chegamos
a meados de 2018 e o que se temia vai se confirmando. A economia brasileira,
apesar da pequena melhora em 2017, continua à deriva, com seu quadro piorando
no corrente ano. A primeira fotografia nos chega através do PIB oficial do
primeiro trimestre. Ao registrar apenas 0,4%, contra 1,1% no primeiro trimestre
de 2017, cristaliza o óbvio: é ilusão imaginar que a economia irá melhorar sem
um profundo ajuste fiscal, o qual depende de reformas estruturais adequadas. A
greve dos caminhoneiros potencializou o problema. Associou-se a ela a disparada
cambial e, com isso, já é plausível um PIB negativo no segundo trimestre do
ano. Paralelamente, o mercado de trabalho não reage, enquanto a taxa de
investimento continua muito aquém do necessário. No primeiro trimestre de 2018 esta
taxa era de apenas 16% do PIB, a segunda menor para o primeiro trimestre desde
1996, quando o aceitável é 25%. Sem conseguir atacar o cerne do problema, que é
o inchaço e a ineficiência do Estado, o governo corta onde não deve: nos
investimentos, na educação, na saúde etc. Em 2017, os investimentos públicos caíram
para tão somente 1,17% do PIB, o menor nível em 50 anos. Que 2018 está perdido
já se sabe há muito tempo. A questão agora é o que nos espera para 2019! Em tal
contexto de indefinições, o país assiste a uma fuga de dólares, causadora de forte
desvalorização do Real, a qual aguça a inflação (em maio esta saltou para 0,4%,
contra 0,22% em abril). Ao se aproximar dos R$ 4,00 por dólar, nesta primeira
quinzena de junho, a moeda brasileira voltou a patamares somente vistos no
final de 2002. É bom lembrar que a maior pressão sobre os preços, devido à
greve, ao câmbio e ao constante reajuste dos combustíveis, virá em junho e nos
meses seguintes. Estes efeitos internos se associam a um quadro de potencial
alta dos juros nos EUA. E para conter a saída de dólares, o Banco Central se vê
obrigado a comprometer suas reservas cambiais. Mas isso tem limites! Especialmente
porque o mercado sabe que o problema estrutural brasileiro tem sido
irresponsavelmente aumentado pelo descontrole dos gastos públicos e a
protelação das reformas. Diante disso, não será surpresa se o Banco Central
brasileiro volte a elevar a Selic já neste ano. Ora, elevar a taxa básica, em
um momento em que os juros reais pouco baixaram, é alimentar a freada na economia,
e o círculo vicioso se auto alimenta, comprometendo o futuro nacional. Desde
2007/08, quando da eclosão da crise mundial, este cenário era perceptível e os
alertas surgiram. Passados 10 anos, nada fizemos de concreto para impedi-lo.
Pelo contrário, na maior parte desta década as ações públicas nacionais,
reforçadas por interesses privados, foram no sentido oposto. Não há economia
que resista e a conta sobra sempre para os cidadãos, a começar pelos mais
pobres.