Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
07/06/2018
Como
expusemos na coluna anterior, é natural que a sociedade em geral e os
caminhoneiros em particular reajam ao preço dos combustíveis. Em qualquer transporte
de carga rodoviário, em um trajeto de mil quilômetros neste país, 38% do custo
é o combustível! É nesse quadro que a composição do preço do diesel (e da
gasolina) merece atenção. No caso do diesel, 55% do preço ficam com a
Petrobras; 13% é incidência da CIDE, PIS/PASEP e COFINS; 16% ICMS; 7% é o custo
do biodiesel; 9% ficam com a distribuição e a revenda (postos), lembrando que
há 10% de biodiesel em cada litro de diesel vendido. Isso significa dizer que a
carga de impostos e taxas totaliza 29%. No caso da gasolina tal carga sobe para
45%. Ora, pagar um preço cada vez mais alto pelo combustível, que contém tal
carga de impostos e taxas, a qual em parte é (ou foi) roubada pela corrupção e
outra parte vai para manter a máquina pública inchada e ineficiente, sem
retorno praticamente algum de serviços públicos adequados, e nem mesmo estradas
decentes, é inadmissível. Rapidamente a greve se torna uma alternativa! Já o
governo, em sua fraqueza política, subestimou o movimento e não se organizou
para o fato. Em pouco tempo foi surpreendido, demorando a negociar. E quando o
faz, a própria categoria dos caminhoneiros já havia perdido o controle da
situação. O efeito econômico disso tudo, apesar das justas razões iniciais dos
caminhoneiros (tanto que ganharam o apoio quase geral da sociedade), é
terrível. No oitavo dia de paralisação do transporte, a Petrobras já havia
perdido R$ 126 bilhões de seu valor. A economia geral, vê seu PIB caminhar para
uma forte queda em 2018, em relação ao projetado inicialmente. Ocorre um
desabastecimento contínuo de bens em geral, enquanto as indústrias param,
gerando pressão inflacionária que ainda está por vir. O emprego fica ainda mais
ameaçado. Ao mesmo tempo, a bolha existente na Bolsa de Valores encontra o
motivo para estourar e o índice despenca, perdendo cerca de 10.000 pontos em
menos de 10 dias. Paralelamente, o Real retoma seu caminho de desvalorização,
voltando aos patamares de R$ 3,75 por dólar e obrigando o Banco Central a
queimar reservas cambiais para segurar o processo. Para piorar o cenário, as
medidas anunciadas pelo governo, visando atender as reivindicações dos
caminhoneiros, vão transferir para os contribuintes o custo da greve, além de
comprometer ainda mais o necessário ajuste fiscal (o rombo fiscal da greve é
calculado em R$ 13,5 bilhões). O que já estava ruim ficará pior no cenário da
economia nacional até o final do ano. Com o agravante de que politicamente o
país está perdido, com o Executivo e o Congresso Nacional distantes da
realidade nacional. E não espere milagres do próximo governo, qualquer que seja
ele. Os próximos anos serão muito difíceis, fato que a greve dos caminhoneiros acabou
cristalizando à Nação.