Prof.
Dr. Argemiro Luís Brum
24/05/2018
E o Brasil “cai na real” antes mesmo de
terminar o quinto mês do ano! Uma realidade econômica pior do que a existente
um ano atrás. Alguns pontos a destacar: 1) a baixa inflação oficial não reflete
os constantes aumentos dos preços que atingem de fato o bolso do consumidor, freando
o consumo. Ao mesmo tempo, os preços sobem pouco em outros setores porque a
demanda não reage, já que as famílias continuam diante de forte desemprego,
alto endividamento e importante inadimplência. O agravante é que logo mais os
números da inflação oficial devem igualmente subir devido a correção dos preços
administrados (combustíveis, gás, eletricidade), gerando uma inflação de
custos; 2) apesar de algumas reações localizadas e de curto prazo,
estruturalmente o desemprego voltou a subir nos últimos meses (segundo o IBGE
falta trabalho para 27,7 milhões de brasileiros em idade para tal). Destes,
13,7 milhões são considerados tecnicamente desempregados, pois procuraram
emprego em abril e não o encontraram; 3) o PIB do primeiro trimestre, ainda
prévio, pois trata-se do IBC-Br, foi negativo em 0,13% (o primeiro trimestre
negativo desde o final de 2016), após -0,74% em março, configurando muito mais
cedo do que se previa o “voo de galinha” de nossa economia; 4) o reflexo
imediato deste conjunto de fatos veio na forma de forte desvalorização do Real
nas últimas semanas. Sem ajuste fiscal, sem reformas estruturais e com enorme
indefinição política à beira das eleições presidenciais e legislativas, há uma
fuga de capitais do país nos últimos dois meses (entre meados de março e meados
de maio do corrente ano o Real já desvalorizou 14,3%, batendo em R$ 3,75 no dia
18/05 e mirando R$ 4,00 em um horizonte próximo). Tal movimento reforça o
potencial inflacionário futuro na medida em que tudo o que é importado fica
mais caro. Assim, se é fato que a situação externa atrapalha (os juros nos EUA
e os sinais procedentes da crise Argentina são um forte alerta), o grande
complicador está na economia interna. Ciente disso e constatando que, na
prática, a forte baixa da taxa Selic pouco resultou em redução dos juros reais
na economia (entre outubro/16 e abril/18 a Selic recuou 54,4%, enquanto a média
dos juros que atingem a economia real recuou apenas 16,2%) e, por consequência,
pouco serviu de alavancador do PIB nacional, o Copom interrompe a baixa da
Selic e, talvez, ainda neste ano inicie, infelizmente, um processo de aumento
do juro básico (ataca-se a febre já que a doença continua ignorada). Sem reformas
estruturais e um profundo ajuste fiscal que deixe o Estado mais eficiente e
competitivo, nossa economia continuará caminhando tropegamente pelos próximos
anos, em permanente crise, flertando seguidamente com a recessão, com tudo o
que de negativo isso possa causar à sociedade em geral e aos mais pobres em
particular.