Prof.
Dr. Argemiro Luís Brum
03/05/2018
Como vimos na coluna anterior, sinais começam a piscar indicando a
proximidade de uma nova recessão econômica internacional. Isto se deve, em
grande parte, ao fato de que os mercados financeiros estarem inundados de
liquidez, fazendo subir o preço dos ativos sem conexão direta com a economia
real (no Brasil, entre 20/04/17 e 20/04/2018, enquanto o Ibovespa subiu 32,9%,
o PIB provisório brasileiro cresceu apenas 1,4%, ou seja, uma diferença de 23,5
vezes). No caso dos EUA, no setor imobiliário comercial, na Bolsa e nos Fundos existem
mais de 1,1 trilhão de dólares líquidos prontos para serem investidos. Um
recorde que vai levar a se pagar qualquer coisa por qualquer preço. E o pior é
que esta exuberância não parece estar se acalmando, pelo contrário. A reforma
tributária dos EUA, lançada em dezembro/17, acaba alimentando a engrenagem.
Teoricamente ela busca estimular os investimentos visando melhorar o crescimento
da economia local. Na prática, as multinacionais estadunidenses não precisavam
da reforma para aumentar seus investimentos, se assim o desejassem. Afinal, os seus
lucros, antes do pagamento de impostos, estão no mais alto nível histórico. O
fato é que tais empresas não têm interesse em aumentar os investimentos. Assim,
os ganhos adicionais, obtidos com a reforma, irão para a especulação,
alimentando a bolha financeira. Tanto é verdade que, hoje, elas preferem
direcionar 80% de seus lucros (contra apenas 25% nos anos 1980) a seus
acionistas, sob forma de dividendos e de recompra de ações. Ora, a maioria
direcionará tais valores às aplicações financeiras, inchando ainda mais a
bolha. Em síntese, o mercado está sendo inundado de liquidez, a ponto de o
diretor geral do Bridgewater Associates, um dos maiores fundos especulativos do
mundo, prevenir em Davos (Suíça), no final de janeiro passado, “que o setor
financeiro mundial entra, sem dúvida, na reta final do ciclo de alta antes do
grande estouro da bolha e o desmoronamento do sistema”. Ou seja, o mundo parece
nada ter aprendido com a crise de 2007/08, pois falta consenso internacional e
liderança das instituições supranacionais para construir alternativas que
evitem tais crises. O próprio FMI, em recente relatório, estabelece o período
entre 2020 e 2024 para o surgimento de nova recessão internacional. E a mesma
será mais difícil de resolver em comparação as anteriores. E o Brasil nisso
tudo? Pois nossa economia, diante da incapacidade estrutural de ser corrigida,
em muito pela incompetência e desinteresse político de parcelas da sociedade,
além da fraqueza do Executivo e do Congresso Nacional, corre o sério risco de
ser engolida pela nova crise sem nem mesmo, antes, ter conseguido superar a
crise atual. E, dependendo do resultado das eleições de outubro próximo, o
quadro ainda pode piorar.