Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
19/04/2018
Os preços da soja
assistem a uma elevação importante no mercado nacional em pleno final de
colheita de uma safra cheia (115 milhões de toneladas). Estamos diante da
melhor janela de comercialização dos últimos dois anos. O que vem motivando
isso? Pelo lado externo, a firmeza em Chicago. Desde meados de fevereiro,
quando se desenhou a quebra de safra na Argentina, o bushel de soja passou a um
patamar médio entre US$ 10,30 e US$ 10,60, quando havia passado os 12 meses
anteriores entre US$ 9,30 e US$ 9,80. A média de março ficou em US$
10,39/bushel, sendo a maior média mensal desde julho de 2016. E na primeira
quinzena de abril o mercado voltou a atingir, em alguns momentos, os US$
10,60/bushel. Como a seca argentina continuou, a tendência altista se
consolidou (a quebra no vizinho país está calculada hoje em 20 milhões de
toneladas, considerando uma expectativa inicial de colheita em 57 milhões).
Logo em seguida o mercado foi surpreendido, em 29/03, pelo anúncio de que a
área a ser semeada com soja nos EUA, ao invés de aumentar como era esperado,
deverá recuar em 1%. Enfim, o litígio comercial entre EUA e China, que tinha
grande potencial para derrubar as cotações na Bolsa, diminui de intensidade aos
olhos dos operadores bursáteis na medida em que os dois países começam a
negociar soluções para o problema. Pelo lado interno, temos a forte
desvalorização do Real, a qual colocou nossa moeda acima de R$ 3,40 em diversos
dias deste mês de abril (a média dos primeiros 16 dias de abril/18 é de R$ 3,37
contra a média de R$ 3,13 em abril/17). Isso está ligado às atribulações
políticas vividas pelo país, com os consequentes efeitos sobre a economia, a
qual está longe de decolar. Aliás, a prévia do PIB do primeiro trimestre de
2018 ficou abaixo do esperado pelo mercado! Ao mesmo tempo, o litígio comercial
entre EUA e China escancarou a possibilidade concreta de, nesta temporada, o
Brasil se tornar praticamente o único fornecedor de soja para os chineses. Isto
elevou os prêmios nos portos nacionais. Na semana passada, em
Rio Grande, o prêmio para abril oscilou entre US$ 1,18 e US$ 1,33/bushel,
enquanto um ano atrás os mesmos estavam entre US$ 0,42 e US$ 0,46/bushel. Ou
seja, houve um aumento de 180% a 190% nos mesmos na comparação entre abril/17 e
abril/18. Em Paranaguá o aumento foi mais extraordinário, variando entre 419% e
445% no mesmo período. Este conjunto de fatores trouxe o preço nominal interno
da soja para patamares próximos aos praticados dois anos atrás. No balcão
gaúcho, por exemplo, a média estadual na semana passada ficou em R$ 76,00/saco,
contra R$ 56,65 em meados de abril do ano passado, enquanto os lotes ultrapassaram
os R$ 80,00. Este é mais um grande momento para se agregar na média de
comercialização da atual safra.