Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
12/04/2018
O atual conflito comercial entre EUA e China assume maior
relevância pelo fato de atingir uma região que será a principal do mundo. Estudos
divulgados em 26/12/2017 pelo Centre of Economics and Business Research (CEBR),
situado no Reino Unido, dão conta de que a Ásia irá modificar a ordem econômica
mundial nas próximas décadas. Neste contexto, a Índia se tornará a quinta
economia do mundo, superando a França e o Reino Unido. Até 2032 a Coreia do Sul
e a Indonésia entrarão no ranking das 10 maiores economias do mundo, enquanto
Taiwan, Tailândia, Filipinas e Paquistão estarão entre as 25 maiores. Em 2030 a
China ocupará o primeiro lugar mundial, superando os EUA. Em 2030, quatro das
cinco principais economias do mundo serão asiáticas (China, Índia, Japão e
Indonésia). Enquanto isso, o peso econômico dos países avançados continuará
diminuindo. O mundo desenvolvido, que representava 76% da economia mundial até
2000, em 2032 deverá representar 44%, enquanto os países em desenvolvimento
comporão 56% desta economia. Já as economias em desenvolvimento
terão cada vez mais peso nas decisões políticas e econômicas mundiais e
bilaterais. Neste quadro, a atual retomada econômica tem a Ásia-Pacífico na liderança,
com 5,4% de crescimento em 2018, contra 3,7% para o conjunto da economia mundial,
2,2% para a América do Norte e 2% para a Europa. Até 2030 a Ásia terá mais de 50% da
população mundial, com um forte potencial de avanço econômico já que sua taxa de
urbanização, no momento, é de apenas 40%, contra 80% a 90% junto às economias
avançadas. Mas
potência econômica aqui significa tamanho de mercado e não necessariamente
riqueza média em cada país, ou seja, as desigualdades sociais na Ásia
continuarão elevadas. Neste sentido, na China, em 2016, a renda média por
habitante era de apenas 15% da que existia nos EUA, enquanto na Índia a mesma
representava somente 3%. No final de 2017, os maiores empresários indianos
ganhavam 229 vezes mais que o salário médio local, enquanto 20% da população
indiana vive até hoje em extrema pobreza. Assim, na Ásia em geral muitos
habitantes correm o risco de se tornarem velhos antes de virem a ser ricos.
Algo, aliás, que não é exclusivo daquele continente. Enfim, o risco, neste
contexto, é a Ásia cair na armadilha da “renda intermediária” pela qual,
passada a fase de recuperação, os países locais veriam seu crescimento estagnar
em proporções que os impediriam de convergir para os níveis de vida das atuais
economias avançadas. Algo que o Brasil também conhece muito bem! O fato é que,
diante de tal poderio econômico asiático, os EUA têm muito mais a perder com a
guerra comercial do que a China. Não é por acaso que Trump já vem ponderando
que o conflito poderá ser resolvido com acordos entre os dois países, acalmando
temporariamente os mercados.